terça-feira, 21 de novembro de 2023

            O ESPÍRITO DE UM CACHORRO DOIDO


        


Javier Milei foi eleito domingo, 19/11/2023, Presidente da Argentina. O sujeito é excêntrico, jura que conversa com o espírito de seu cachorro, seu maior estrategista de campanha, através de um médium.

A Argentina lutava para sair do desastre que foram as políticas neoliberais do governo de Maurício Macri, que governou o país de 2015-19, quando o empobrecimento da população e a decadência dos serviços públicos se aprofundaram ainda mais.

O Presidente Alberto Fernández labutou para reverter esta herança caótica mas não obteve êxito, a inflação, um problema renitente da economia argentina, alcançou 329,4% em seu governo (2019-23).

Javier Milei se diz ultraliberal, defende a extinção do banco central, a legalização do comércio de órgãos humanos e a dolarização da economia argentina. Os argentinos irão pagar caro por este erro pois nenhum país do mundo pode ser governado com as ideias neoliberais. Será que este maluco vai concluir o mandato?  

Em 1991, no governo de Carlos Menem, o então Ministro da Economia Domingo Cavallo dolarizou a economia argentina estabelecendo a paridade entre o dólar e o peso. Em uma semana a economia argentina explodiu. A experiência mostrou que a dolarização da economia não deu certo e que as demais políticas neoliberais só degradaram os serviços públicos e empobreceram a população, contudo, os argentinos teimam contra os fatos ao elegerem Javier Milei.    

O avanço da extrema direita no mundo merece estudos mais detidos pois é um fenômeno mais permanente do que imaginávamos.

A ação planejada e direcionada de centros de estudos, os think tank's da classe dominante, desempenham papel relevante neste caos ideológico niilista chamado pós-verdade. Venderam e uns mentecaptos compraram a fraude de que o que vale é a narrativa e não a verdade factual.

Tenho como certo que a ideia da terra plana foi só um teste pois não tem nenhuma utilidade. Caso fossem capazes de convencer que a terra é plana contra todas as provas existentes da forma esférica do planeta poderiam convencer o rebanho de que existem raças humanas (o terraplanismo das ciências sociais)  e outras mentiras.

A instigação do ódio também é um cavalo de batalha nesta ascensão da extrema direita pois deixa a sociedade histérica, instável e propensa a irracionalidades em qualquer lugar do mundo.

O papel das redes sociais e da falta de uma alternativa ao capitalismo sobressaem em um exame imediato deste problema.

segunda-feira, 11 de setembro de 2023

                  UM EXEMPLO DE CORAGEM

 


Hoje, 11 de setembro de 2023, completa cinquenta anos do golpe de Estado que assassinou Salvador Allende.

Allende liderava a via pacífica para o socialismo, uma tendência reformista consistente. A direita não tinha como reverter esta inclinação da sociedade chilena por eleições e buscou apoio financeiro e político nos EUA para um golpe de Estado.

Semearam o terror, bombas explodiam constantemente, mas paralisar a economia foi a receita para a desordem. O Chile depende muito de caminhões para transporte de mercadorias e aí a CIA pagava aos caminhoneiros por dias parados, além de outras sabotagens.

Diante do imenso embaraço criado pela sabotagem constante que sacrificava a população Allende decidiu convocar novas eleições. A direita não aceitou, só lhe servia a tomada do poder pela violência típica dos golpes de Estado.

Aí entra em cena Pinochet, homicida e ladrão (com toneladas de ouro em bancos suíços) que até a véspera do golpe se dizia fiel ao Presidente, e portanto, insuspeito de cometer o crime de conspiração.

Vendido aos EUA Pinochet deu ultimato a Allende para que ele e seu staff deixasse o país em quantos aviões precisasse sob pena de ter o Palácio de La Moneda bombardeado por aviões. O Presidente recusou e morreu combatendo as tropas de assalto de Pinochet, homicida e ladrão.

Algumas lições precisam ser aprendidas com estes fatos. Primeira, até agora nenhuma tendência reformista consistente desde 1954 pôde ser revertida sem golpe de Estado, data em que ocorreu o primeiro golpe de Estado para deter reformas na Guatemala com a destituição do Presidente Jacob Arbenz.

Desde este golpe de Estado tem sido assim. No Paraguai também ocorreu um golpe militar em 1954; no Brasil foi em 1964; no Uruguai e Chile em 1973; na Argentina foi em 1976.

Parece-me óbvio: não se reverte uma tendência reformista consistente sem violência extrema, assassinatos, prisões ilegais, torturas, exílio e desaparecimentos forçados.

Desde a primeira eleição para Presidente em 1989 que o PT está no segundo turno. Tem se mostrado uma tendência reformista consistente e resistido a todas as investidas para neutralizá-la, como se constata ao examinar a AP 470, "o mensalão" e a Operação de Sérgio Moro.

Está provado que sem golpe de Estado não reverterão esta tendência. Hoje é dia de reflexão, de lembramos a valentia do Presidente Salvador Allende e de aprendermos com os fatos históricos.

 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

                                       UM JUIZ GARANTISTA



O poder da mídia no Brasil é impressionante. O Ministro Zanin é a bola da vez. As manchetes e as mentiras sobre seus votos colaram até em um tipo de gente que se acha gênio de garrafa porque se julga progressista, de esquerda e coisas que tais.

O Ministro jamais será perdoado pela mídia em razão da batalha que travou na defesa do Presidente Lula e por ter organizado um livro sobre o caso Lula e escrito outro sobre lawfare para ad perpetuam rei memoriam (para perpétua memória da coisa).

A mídia sabe que é fácil induzir em erro milhões de idiotas que não checam nada, acreditam em tudo, principalmente nas manchetes da mídia venal. E quando a questão envolve decisões judiciais é que a estupidez se sente mais encorajada pois quem vai ler uma decisão judicial? Quantos têm conhecimento e não são preguiçosos para checarem os possíveis erros de uma decisão discricionária e à margem do direito posto nas leis?

Em um charco destes a desinformação predomina e os caras da mídia dão risada. Vêem que ainda têm muita influência entre uns patetas "progressistas".

Esta vingança contra o Ministro mostra que a luta de classes não tem férias e a classe dominante brasileira é casca grossa. Que ninguém ouse contrariar minimamente seus interesses sem saber o que lhe aguarda.

Vamos esclarecer as palavras. Um juiz garantista é aquele que se pauta no princípio da legalidade, juridicamente não se pode esperar mais que isso pois um bom juiz não desborda suas decisões do direito posto. Isto não é pouca coisa para os cidadãos pois o princípio da legalidade é o único anteparo que dispõem, principalmente, em face do abuso das autoridades.

O Ministro Zanin sabia o território em que estava pisando e não mudou,  sua consciência jurídica garantista é a mesma. Quem mudou foram os abilolados; que vão mudar seu julgamento doido sobre ele mais na frente tal como mudam de direção as birutas dos aeroportos.


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

                               NÃO SEJA UMA MULA





Antes de opinar sobre o voto do Ministro Zanin sobre a constitucionalidade do art. 28 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) e a quantidade da substância procure se inteirar para não dizer bobagens. Ele votou pela constitucionalidade do artigo e 25 gramas de maconha para a aferição da diferença entre traficante e usuário [1]. Para usuário ou viciado  não tem pena de prisão, como consta no dispositivo legal discutido.

Procure saber o que é um vício, como este transforma uma pessoa em um zumbi, um trapo humano, faça um passeio na cracolândia na Cidade de São Paulo ou converse com quem tem um alcoólatra na família. O vício em drogas ilícitas ou lícitas como a bebida alcoólica é uma doença crônica, uma vez adquirida a pessoa não se cura jamais, pode controlar como se controla uma doença crônica e ter recaídas, quem afirma isto é a Organização Mundial de Saúde - OMS.  

O tabagismo provoca 50 doenças no organismo humano. Hoje no Brasil uma mercadoria como cigarro de fumo não pode ser posta à venda legalmente pois infringe o CDC – Código de Defesa do Consumidor (Lei nº. 8.078/1990).

A melhor política antidrogas das Américas está em Cuba, quem for flagrado traficando responde a processo e a pena é de morte neste caso, fuzilamento. Não se ver zumbis viciados em crack nas ruas de Havana ou de qualquer outra cidade de Cuba. Sou cubano de coração; o Estado tem que zelar pela saúde da população.

Os neoliberais defendem a liberação com base na liberdade econômica. Tive um professor de direito penal, desembargador, que defendia a liberação total, dizia ele: "quem quiser se matar que se mate". Neoliberais como Milton Friedman, FHC e Ludwig von Mises defendem a total liberação das drogas ilícitas. E a saúde da população que exploda para enriquecer uma minoria, como sempre.

Não seja mula de traficantes se achando progressista por defender estas ideias tóxicas do neoliberalismo. Antes de defender a liberação procure se informar para não ser um mané a serviço de traficantes.

Nota

[1]  Zanin vota contra a descriminalização do porte pessoal de drogas... 

https://www.poder360.com.br/justica/zanin-vota-contra-a-descriminalizacao-do-porte-pessoal-de-drogas/?fbclid=IwAR2ijV0IL9bOx_Wbh1ut95gRK911a3KmQMjVsQAj5Gwi2bsbmbLqd1qG-_s

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

                         LAWFARE - uma introdução


      

Recebi hoje (comprei pela web) o livro do Ministro Zanin, LAWFARE - uma introdução, e mesmo assoberbado comecei a lê-lo.

É um livro que logo nas primeiras páginas me prendeu, é obra de grandes advogados, foi escrito em parceria com Valeska Martins e Rafael Valim.

Grandes advogados procuram entender o direito como fenômeno jurídico-político. No Brasil eles mostraram esta grandeza ao defenderem presos políticos, cito dois (por afinidade): Modesto da Silveira e Heleno Fragoso.

Desde a Ação Penal 470-DF, "o mensalão", que estava perceptível para quem tinha olhos capazes de ver que se tratava de uma armação político-jurídica.

Este fenômeno não poderia passar sem ser eviscerado para a opinião pública. Mas foi o que aconteceu, nem os réus nem os advogados tiveram disposição para o enfrentamento neste campo em que o inimigo nadava de braçadas.

Com o Presidente Lula e os então advogados Cristiano e Valeska a banda tocou diferente, foram buscar apoio e conhecimento para eviscerar o manejo do sistema de justiça para encarcerar um adversário.

Sob a liderança dos dois, muitos advogados, professores e juristas esmiuçaram a sentença do "triplex". A luta extravasou os autos do processo e o uso do Judiciário como instrumento para perseguir um inimigo político restou demonstrado.

Para o tiro de misericórdia apareceu o hacker de Araraquara e mostrou o diálogo escrito do conluio criminoso que era a operação de Sérgio Moro.

Participei, como milhares de outros brasileiros anônimos, da fundação do PT. Presenciei o aparato judicial e policial ser usado constantemente contra a esquerda. Minha formação marxista me ajudava a elucidar como a classe dominante faz uso do Estado para continuar dominando.

Advogados ou quaisquer outros profissionais jejunos em sociologia ou política ou simplesmente despolitizados não percebem o uso político do Estado.

Já vi juíza e promotora carlista (cupinchas do tristemente famoso ACM); já vi promotora de justiça pior que um demônio manejando a titularidade da ação penal pública para perseguir e tratar o direito conforme suas conveniências.

Encantei-me com o livro LAWFARE pois retira o debate jurídico do âmbito pequeno de uma doutrina medrosa e às vezes medíocre por opção e covardia.

Voltarei ao assunto. 

 

sábado, 27 de maio de 2023

                        “UM JUIZ DE MERDA”

 

Faça seu julgamento...

O Ministro Dias Tóffoli, do STF, é o que se convencionou chamar "juiz de merda", o cara condenou José Genoíno mesmo sabendo que era inocente, somente para poder participar do passo seguinte, a dosimetria da pena, segundo confessa o juiz impudico [1].

Esta confissão de Tóffoli é confissão de quando nada um crime, prevaricação. Mas é disto que o Judiciário brasileiro é feito, tipos covardes, oportunistas, sem caracteres, venais, mesquinhos.

O povo brasileiro a cada dia degenera um pouco mais pois se não fosse isto já teria feito justiça com as próprias mãos, o que não é bom, mas é melhor que nada, convenhamos. O povo já teria invadido alguns foruns, depredado suas instalações e pendurado alguns juízes e desembargadores nos postes de iluminação pública.

O que esta gente faz com o direito dos outros não é para menos. No mínimo fazem assim: se eles não gostam do advogado, se vingam nos constituintes. Querem subserviência e mesuras, detestam altivez e honradez.

O ex-juiz parcial que agora é senador é o arquétipo do juiz brasileiro, covarde, escroto, parcial, infame, tudo, menos um juiz. E esta escória encontra em muitos advogados subserviência, quando deveriam encontrar um paredão composto de coragem, altivez e exigência para cumprirem a lei.

Se o STF tivesse um mínimo de respeitabilidade abriria um processo para Tófolli responder pelo crime cometido. Em um mundo menos injusto a banda tocaria assim...


Nota

[1] TODA SOLIDARIEDADE A JOSÉ GENOÍNO

https://www.facebook.com/breno.altman/videos/633947988601895

 

quinta-feira, 18 de maio de 2023

                                         FALECEU THEODOMIRO

 

Theodomiro Romeiro (esquerda) e Paulo Pontes durante julgamento em 1971 | Foto: Paulo Biccas/Tribuna da Bahia


Domingo, 14 de maio do ano corrente, faleceu Theodomiro Romeiro dos Santos. Eu era ainda muito jovem quando tomei conhecimento de sua história, o ano era 1978 e a campanha pela anistia tinha ganhado as ruas do país.

Theodomiro cumpria pena na penitenciária Lemos Brito aqui em Salvador, BA, na condição de preso político pois em 27 de outubro de 1970 tinha sido vítima de uma tentativa de sequestro por parte de um bando armado, pistoleiros da ditadura, para ser torturado ou morto na tentativa de extraírem informações sobre o partido, PCBR, e os companheiros.

O bando não tinha mandado judicial, nenhum do bando sequer se identificou ou qualquer deles deu voz de prisão, de pronto agarraram ele e Paulo Pontes e imediatamente os jogaram em um jipe da Aeronáutica. Theo resistiu e atirou em dois, um deles morreu e o outro ficou ferido, o que faleceu era sargento da força aérea e o outro da polícia federal.

A tentativa de sequestro de Theo e de Paulo Pontes e a morte do militar aconteceram no entorno do Dique do Tororó, em Salvador, BA, onde hoje tem um viaduto. Ali mesmo quase foram trucidados. Um dos componentes do bando fez disparo contra a cabeça de Paulo Pontes mas a má qualidade da munição o salvou da morte certa. Theo estava com dezoito anos de idade.

As circunstâncias induzem a pensar que a morte do sargento os salvou da morte pois à medida que o tempo passava mais difícil se tornava ocultar a prisão dos dois e além do mais uma explicação precisava ser dada para a morte do militar, que fazia um servicinho extra.

Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade aqui em Salvador Theodomiro disse que reagiu porque preferiu morrer por tiros que ter a mesma morte de Mário Alves, secretário geral do PCBR que foi assassinado dentro das dependências do Exército no Rio de Janeiro em um suplício medieval, foi empalado.

Deram fim em seu corpo para tentar ocultar o crime bárbaro e até hoje a família não teve oportunidade de dar um sepultamento decente a seus restos mortais. Esta mácula o Exército brasileiro jamais apagará de si, arcará com o peso do assassinato infame e covarde. 

Em um simulacro de processo na Justiça Militar Theodomiro foi condenado à morte, depois comutaram a pena para prisão perpétua, depois trinta anos e por último para dez anos e quatro meses, isto depois da nova lei de segurança nacional da época.

Seus advogados em uma luta incansável e destemida requereram a progressão de regime, a liberdade condicional, que pode ser requerida depois cumprido um terço da pena. Negaram. Ele já tinha cumprido mais de nove anos da pena.

Tudo era muito óbvio pois com a anistia que se avizinhava todos os outros presos políticos ganhariam a liberdade e Theodomiro ficaria só em um ambiente controlado pela meganha. Seria assassinado. Todos sabiam que a Justiça Militar era um braço dos órgãos da repressão aos que resistiram à ditadura instalada com o golpe de Estado de 1964 e seria cúmplice do crime.

Foi nestas condições que Theodomiro empreendeu a busca de sua liberdade no dia 17 de agosto de 1979, onze dias antes da anistia concedida em 28 de agosto do mesmo ano. Seu partido jamais o abandonou, o PCBR chamou para si a responsabilidade da fuga até sua chegada na Nunciatura Apostólica, o equivalente a embaixada do Vaticano em Brasília, de lá foi para o México e depois para a França.

Voltou ao Brasil em 1985 com o fim da ditadura, fez o curso de Direito na UFPE, em seguida foi aprovado em concurso para juiz do trabalho, função em que se aposentou.

Jamais renegou seu passado de jovem guerrilheiro combatente da ditadura e defensor do socialismo. Quando esteve em Salvador para depor na Comissão Estadual da Verdade eu conversei com ele. Irradiava simpatia, serenidade e determinação resoluta: me contou que tinha uma pistola e a cada dois anos ia renovar o porte da arma no Exército. Penso eu: quem quisesse fazer alguma retaliação teria certeza que ele iria se defender.

Quem combateu a ditadura defendeu o interesse público, o interesse de todos, pois a infame era ilegítima, um governo de fato, como todo governo baseado na força, e ilegal, as autoridades agiam arbitrariamente, vigia o crime como forma de governar.

Theodomiro morreu serenamente, depois das consequências de um AVC hemorrágico, no seio de sua família e muito estimado por seus companheiros de luta política contra a ditadura.  

terça-feira, 9 de maio de 2023

          OS PERIGOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

                     


A pauta neoliberal ("identitária") mostra sua face sem rebuços no empreendedorismo. Este é o cimento da competição extrema que é instigada entre os trabalhadores pela preterição "identitária". 

Esta pauta infame colonizou os partidos de "esquerda" e é a pauta das grandes redações da mídia corporativa e familiar. O capitalismo é aceito por esta gente como impossível de ser superado, já partem desta aceitação ideológica neoliberal.

À vista disso ganharam a batalha ideológica no momento, nada há que possa ser feito, pois a manada encontrou seu ópio.

Para Gramsci para se formar um partido é imprescindível que existam intelectuais em três níveis. A vitória total e sem luta da pauta neoliberal mostra que não temos os elementos indispensáveis para formar um partido de esquerda. A teoria marxista do capitalismo foi suplantada e renegada. Nem se fala mais em luta de classes.

A web sem regulamentação e com seus algoritmos direcionadores foram decisivos nesta batalha. O comportamento de manada foi turbinado em escala exponencial com estas duas ferramentas. As manadas vão fazer misérias mais do que já fazem. Outra pessoa foi linchada no Guarujá [1], litoral paulista, devido a esta conduta infame da manada potencializada pela web.

Parece que com a inteligência artificial a tendência é serem multiplicadas estas condutas abjetas da malta linchadora, que é principalmente anti-intelectual.

Aquilo que é muito simples para uns poucos é impossível para o rebanho, pensar criticamente. Pensar é um trabalho, analisar fatos e argumentos demanda esforço mas tem recompensas pois caso você não olhe de maneira crítica o que lhe chegar acreditará em qualquer coisa.

A força da inércia sempre tem vencido. Mas tem também um agravante, desde tempos não datados que os crédulos por fraqueza rejeitam a verdade e a realidade. Esta escumalha é uma colônia de micróbios. As piores injustiças sempre foram cometidas por esta escória.

Assistam o vídeo com Miguel Nicolelis [2] e vejam o lado perigoso da inteligência artificial, estabelecer na web o ponto de vista único, justamente o que serve de alimento à malta linchadora em sua preguiça mental e sanha abjeta que emana da vida em rebanho.

 Notas

 [1]  Morte de homem no Guarujá ‘repete’ linchamento sofrido por mulher após boato falso

https://noticias.r7.com/sao-paulo/morte-de-homem-no-guaruja-repete-linchamento-sofrido-por-mulher-apos-boato-falso-09052023

 [2] O ChatGPT modifica a verdade?

https://www.facebook.com/watch/?v=3355774064639180


quinta-feira, 6 de abril de 2023

             COMIGO NÃO, VIOLÃO


       


Os meios de comunicação, em especial a Rede Globo de Televisão, desde a fundação do PT e com uma intensidade inaudita desde 2005 semearam o ódio e instigaram a violência contra os principais dirigentes do partido.

Mas o ódio, por razões óbvias, não pode ser compartimentado e se espalha pelo tecido social.

Desta maneira a sociedade fica histérica, instável e manipulável. Não existe almoço de graça, como dizem os que usam a linguagem das corporações de negócios.

Os dois anos que antecederam o golpe de 1964 e os anos em que Hitler preparou sua escalada foram de disseminação de ódio.

Sem este ódio não existiria a ascensão de Hitler, nem a Segunda Guerra Mundial, nem as câmaras de gás e nem os fornos crematórios.

Os meios de comunicação cometem o crime perfeito, i. é, na frente de todos e sem que vejam. Agora se fazem de atoleimados e sem saber o por que atos bárbaros como o assassinato da professora de 71 anos e esta chacina de 4 crianças aconteceram.

Comigo não, violão.

 


sábado, 1 de abril de 2023

                         CHEGA DE LAMBANÇA


        


Preciso de umas férias, uma temporada na fazenda, qualquer coisa que seja longe de gente histérica e que só atrapalha a reflexão serena.

Não vivo sem bússola, é de minha natureza, preciso entender os fatos e o mundo que me chega pelas notícias, não gosto de me sentir como folha ao vento e preciso de distanciamento emocional para refletir. A gosma emocional só atrapalha o discernimento.

No livro de Turgueniev, PAIS E FILHOS, tem um personagem inesquecível, entusiasta das ciências naturais, se bem me lembro era químico, Bazarov, este é o nome do cara.

Sujeito intrépido, quando fazia frio ele dormia na varanda (parece coisa de Raul Seixas mas não é, está assim mesmo no livro). Tudo vai bem na vida do cara, a razão não abre espaço para o gogo emocional até que se apaixona e aí põe fim à vida mas não cede. Parece que no livro é chamado de niilista, uma injustiça pelo sentido que a palavra tem hoje.

Todas as vezes que a emoção domina a pessoa só faz lambança. Não nego as emoções, pois não sou maluco, mas acho que precisam ser bem orientadas e não se deve agir por impulso.

Até mesmo as piores coisas demandam planejamento para serem bem executadas e serenidade para serem compreendidas. Alegria para serem bem feitas, dizia seu Rosa, o das gerais.

É bom ter cuidado com o apelo à piedade, a intimidação, uso do medo e as diversas formas de coação. Desestabilizar emocionalmente sempre foi uma forma de dominar e induzir. Todo cuidado é pouco nestes dias de intensa histeria.

 

quinta-feira, 23 de março de 2023

                                     COMO AGE A ESCÓRIA

         

Na entrevista do Presidente Lula dada à TV 247 anteontem, 21 de março, ele falou que teve momentos em que não acreditava que a Operação Lava a Jato chegaria a prendê-lo pois para tanto precisariam inventar crimes (e imputá-los ao Presidente).

Por esta afirmação percebe-se que o Presidente é um homem que crê na bondade das pessoas e não imagina o quanto elas podem ser ruins, perversas, corruptas e más, como dizia o gênio florentino.

Não acreditava mas teve que mais adiante acreditar pois a prisão e os processos eram reais, embora fraudulentos. Elementos vis, reles, tinham o prazer em dizer: "Ele foi julgado em duas instâncias e outros recursos foram negados provimentos no STJ e no STF. Então quer dizer que estão todos errados?"

É assim que procediam Silas Malafaia, Magno Malta e outros velhacos de menor calibre. Todos diziam a mesma coisa pois é assim que age a escória, sem interesse pela verdade, mesmo que ela esteja quase à flor da terra, no caso, disponível na web; bastava ler a sentença do delinquente juiz parcial e outras peças dos autos para ver a ausência de crimes e consequentemente de provas.

Chamo Sérgio Moro de delinquente porque é impossível um juiz condenar alguém sem provas e sem crime sem cometer delitos como prevaricação, entre outros.

Qualquer pessoa que conheça um pouco o Judiciário brasileiro sabe que sempre que alguém disser que é vítima desta direita togada deve-se averiguar (lendo os autos e o que mais seja necessário em uma investigação para saber a verdade) pois pode proceder a notícia da injustiça.

A verdade nua e crua é que se um juiz, Desembargadores ou Ministros resolverem lhe meter na cadeia ou retirar de seu patrimônio todos os seus bens não precisarão de provas pois seu direito será atirado no vaso sanitário e dada descarga.

Não existe justiça sem verdade e isto faz a diferença entre as pessoas. Pesquisar para saber a verdade, é assim que age uma pessoa honrada; a escória se refestela na mentira e na infâmia com aberto prazer.

 

quinta-feira, 16 de março de 2023

    É MUITO DIFÍCIL A DEFESA DE QUEM NÃO SE DEFENDE


     


Tenho como certo que uma das formas de controle social mais eficaz é fazer o indivíduo temer a opinião alheia. Os soldados da classe dominante sempre usaram esta arma contra quem se opôs a mais brutal exploração da força de trabalho no Brasil.

Nunca tive medo da opinião alheia porque sei que os estúpidos são facilmente manipuláveis e que se tem um preço pagar por ser livre e exercer a liberdade, principalmente quando se é de esquerda. Nada é gratuito nesta vida.

Outra coisa, cada um tem o direito de ter sua opinião e arcar com as consequências de dizê-la. Portanto, quem inventar estória é que tem que andar em pânico com medo de processos. No mais, quem não se pauta na verdade nada tem a dizer que me interesse e então deve guardar sua opinião, metê-la na gaveta ou onde quiser.

Digo isso porque o advogado Cristiano Zanin será indicado pelo Presidente Lula para o STF e uma das teses defensivas de sua ida para a Corte Constitucional é que nunca criticou o Judiciário nem apontou nenhuma de suas mazelas.

Julgo esta tese péssima pois incentiva mais ainda a submissão dos advogados diante de um Judiciário que precisa ser reformado e que permitiu que o Presidente Lula ficasse 581 dias preso e respondesse a 25 processos farsescos, nenhum deles era mais que um embuste, como restou provado.

Não tenho dúvidas que um dos melhores momentos da defesa de Dr Zanin foi quando advogados do entorno do Presidente Lula insistiram para que houvesse desistência do habeas corpus em que se alegava a suspeição do chefe da "operação lava a jato" e ele, segundo matéria da revista PIAUI, disse que se ocorresse tal desistência que então procurassem outro para patrocinar a defesa do Presidente.

Como é conhecido, o Presidente Lula decidiu não desistir do habeas corpus e o simulacro de juiz foi julgado suspeito. Todo advogado já enfrentou ou arrostará problema análogo pois são raros os constituintes que não se acham conhecedores do direito e grandes táticos das batalhas jurídicas.

Vejamos um caso que considero um equívoco de defesa. O Ministro José Dirceu optou por não combater fora dos autos dos processos as condenações que injustamente lhe impuseram na AP 470 e na operação de Sérgio Moro. Suportou tudo estoicamente.

Considero a tática do Ministro Dirceu um erro; ele teve uma enorme consideração por um Judiciário que o perseguiu e o expôs à execração pública com a finalidade de retirá-lo da disputa política.

Deu no que deu, quase ninguém o defende. A verdade é que ninguém defende quem não se defende e não fornece informações para que outros também lhe defendam.

Tenho como certo que quem for perseguido por um inimigo disposto a destruí-lo deve cavar uma trincheira e atirar com as duas mãos até o último cartucho. O inimigo precisa saber que os danos e os riscos serão recíprocos, é uma lei da guerra.

Nisto tudo não podemos deixar passar despercebida uma sutileza na conduta de advogados famosos e ricos que defendem a submissão e não a crítica a  um Poder Judiciário que a cada dia se desmoraliza mais e mais: os caras tem interesse em ir para o STF, tem amigos nos Tribunais e coisa e tal.

Com esta conduta abjeta muitas vezes rifam os interesses e direitos de seus clientes pois seus próprios interesses estão em primeiro lugar.

Ser ninguém na fila do pão pode ter uma vantagem: fazer uma advocacia desassombrada em acordo com o Código de Ética da advocacia.      

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

                   FALTA DE NOÇÃO


        

Sem raciocínio crítico você pode acreditar em qualquer coisa, no que diz Silas Malafaia, Edir Macedo e outros exploradores da credulidade alheia.

Sem dúvidas que eles exploram um produto largamente difundido e aceito e isto facilita a fraude. Mas ainda assim quem acredita sem pensar e analisar criticamente pode até acreditar que o bandoleiro Lampião era gente boa e coisa e tal.

Lampião, Virgulino Ferreira da Silva, era um bandido perverso e que pelo terror que disseminou sobreviveu muito tempo, invadia fazendas e cidades e mediante ameaças de mortes cruéis extorquia quem queria.

A única cidade em que recebeu o tratamento adequado foi em Mossoró, RN, pois tentou extorquir com uma carta ameaçadora e foi desafiado a entrar na cidade. Foi recebido como deveria, com a população de armas em punho, e depois de três horas de combate desistiu de tomar a cidade e fugiu com seu bando. As frinchas das paredes das casas de Mossoró provocadas por esta resistência honrosa estão preservadas, fazem parte da memória histórica da cidade.

Nunca foi um "bandido social", um Robin Hood do Nordeste brasileiro. Não existe um fato que justifique esta crença.

Contudo, em verdadeira ação de desinformação e falta de noção do ridículo apareceu uma escola de samba para fazer a apologia, isto mesmo, uma homenagem a Lampião e seus crimes.

Foi campeã. É por estas e outras que tomei horror ao carnaval. É muito lixo tratado como coisa de valor.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

         MARIGHELLA, o quarto capítulo

 

Carlos Marighella, deputado constituinte em 1946; guerrilheiro contra a ditadura instalada em 1964

Assisti a série em quatro capítulos sobre Marighella dirigida por Wagner Moura. O primeiro capítulo é caricaturado do início ao fim, os diálogos, a história que nada esclarece. Perdi meu tempo pois produto pior não poderia ter sido produzido. Os diálogos são ruins e o ator que representa Marighella longe está do herói da resistência. Uma fieira de erros que gerou um produto incompreensível.

O segundo capítulo é pior que o primeiro pois mostrou um Marighella defendendo o terrorismo sem contextualizar.

Ele defendeu o terrorismo sim, está escrito no "Mini-manual do Guerrilheiro Urbano", preto no branco, dizendo que ao terror da direita deveria ser oposto o terror da esquerda. Portanto, não foi como está na série de autoria de Wagner Moura onde do nada Marighella defende o terrorismo.

Quanto ao ator negro ao invés de um mais parecido com Marighella é destas licenças poéticas que ao invés de ajudar a tornar compreensível o personagem só faz confundir. A escolha faz parte desta moda "nova": acreditar que existem raças e usar isto para explicar os fatos sociais. Hitler está na crista da onda.

Gostaria apenas que o ator fosse convincente o suficiente para representar um revolucionário de tempo integral como era Marighella, o verdadeiro.

A última cena do último capítulo da série MARIGHELLA foi a melhor. Os sobreviventes da ALN – Ação Libertadora Nacional - de mãos dadas e em círculo cantavam o Hino Nacional; transmitiu muita emoção e a determinação daqueles bravos brasileiros para levarem a luta armada até o último homem.

Cena parecida só no filme CABRA CEGA, onde dois combatentes, um homem e uma mulher, saem para um combate direto e suicida às forças da repressão.

Percebe-se com facilidade - quem tem alguma familiaridade com a história recente do país - as pessoas reais que inspiraram os personagens da série: Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, o segundo homem da ALN, com os óculos de aros finos e modos afáveis que o caracterizaram; Virgílio Gomes, o Comandante Jonas, e seu assassinato a socos e pontapés; o delegado Lúcio é sem dúvidas inspirado em Sérgio Fleury, viciado, associado ao tráfico de cocaína e assassino profissional.

Tem um personagem representado por uma moça pequena e valente que sem dúvidas foi inspirada em Maria do Rego Barros, arquiteta, pertencia na época à ALN e presenciou no pau-de-arara os últimos minutos de vida de Toledo em um sítio na periferia de São Paulo, um antro clandestino de torturas comandado por Sérgio Fleury.

Este bandido pertencia ao famigerado "esquadrão da morte", um grupo de policiais recrutados no lúmpen do proletariado (o refugo de todas as classes) composto de cafetões, achacadores de pequenos comerciantes, sendo o próprio Fleury condenado por associação ao tráfico de cocaína. Foi a esta escumalha que o Exército brasileiro se associou para combater Marighela e todas as organizações da luta armada urbana.

Maria Rego Barros impôs respeito a este celerado, quando foi torturada o enfrentou e nada lhe revelou.

A Maria real bem como a personagem nela inspirada é uma mulher extraordinária, de coragem ímpar. Morava ou mora ainda em Lauro de Freitas, BA, foi o que soube na última notícia dela. A Maria real e a personagem bem como Toledo capturaram minha irrestrita simpatia.

Não percebi na série nenhum personagem inspirado em Carlos Eugênio, o comandante Clemente, o único sobrevivente do comando nacional da ALN.

Wagner Moura não estava preparado para o que tentou fazer, mesmo usando o livro de Mário Magalhães para escrever o roteiro.

Salvo a última cena percebo que foi perdida uma grande oportunidade de fazer uma ótima obra sobre estes brasileiros extraordinários, de grandeza anônima, que lutavam para libertar a população da ditadura instalada com o golpe de Estado de 1964, lutavam contra um governo da fato, totalmente ilegítimo, o crime como forma de governo.