quinta-feira, 11 de agosto de 2022

                                     O DEVER DO ADVOGADO

 



Hoje, 11 de agosto, é dia do advogado.

Procurei ler tudo o que encontrei sobre a profissão de advogado, livros e biografias de advogados que admirei pelo exercício da profissão.

 

Li biografias de Rui Barbosa, de Sobral Pinto, Evandro Lins e Silva, Calamandrei e livros que dão boas orientações para o exercício da profissão de  Técio Lins e Silva, Francisco Mussinich e outros mais. Li sobre casos famosos, Saco e Venzzeti, Tiradentes, julgamentos de  Jesus Cristo e de Sócrates mas nenhum livro me impactou mais que O DEVER DO ADVOGADO, de Rui Barbosa.

 

Rui escrevia muito bem, tem beleza e profundidade em seus textos, tinha coragem, era um doutrinador, cravava princípios e valores, lançou verdadeiros dogmas da deontologia da profissão de advogado. 

 

Vejamos um destes dogmas deontológicos e como Rui o escreveu em O DEVER…  "Todos se acham sob a proteção das leis, que, para os acusados, assenta na faculdade absoluta de combaterem a acusação, articularem a defesa, e exigirem a fidelidade à ordem processual. Esta incumbência, a tradição  jurídica das mais antigas civilizações a reservou sempre ao ministério do advogado. A este, pois, releva honrá-lo, não só arrebatando à perseguição os inocentes, mas reivindicando, no julgamento dos criminosos, a lealdade às garantias legais, a equidade, a imparcialidade, a humanidade.

Esta segunda exigência da nossa vocação é a mais ingrata. Nem todos para ela têm a precisa coragem." (p. 45).

 

A coragem, exercer a advocacia com destemor é a prova de fogo dos advogados, é o exame em que poucos passam pois nosso sistema de justiça é pior que papel higiênico usado e os advogados suportam calados e imersos no mais cínico fatalismo.

 

A maneira como se apuram fatos e circunstâncias materiais nos Inquéritos Policiais, a maneira como o Ministério Público oferece denúncias e se instruem processos é de uma rudeza, estupidez e má-fé que açoda o ânimo de qualquer pessoa honrada.  E os advogados suportam tudo isto resignados e mudos.

 

Existe uma exceção neste mar de espíritos domesticados: Lênio Streck. Foi  um refrigério para minha tormenta conhecer seus textos. 

 

Sou ninguém na fila do pão; não acredito em deuses mas sei que recebi uma missão "divina": combater este sistema de justiça tal como se encontra até o último suspiro. Acredito que como remédio definitivo só o fogo.

 

Tenho como certo que se a população brasileira não tivesse passado pelo processo de escravidão muitos fóruns já teriam sido depredados e alguns que fazem do direito alheio papel higiênico já teriam sido pendurados nos postes de iluminação pública. 

 

Mas temos que reconhecer que nem sempre ser forte consiste em atacar pois resistir também é ser forte. 

 

Não me render, não dar esta alegria ao inimigo, faz parte de minha missão como advogado. O resto é trabalho e perseverança. Em breve escreverei um livro sobre o Judiciário e o seu coração, o poder absoluto dos juízes em colisão com o pilar da República inscrito no parágrafo único do art. 1º da Constituição da República: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição."

 

Este poder sem oposição, contraste ou contrapeso faz com que não exista código de processo que obrigue um juiz a julgar conforme o direito, cuja fonte principal é a lei. Quem moureja na advocacia sabe o que é esta máquina infame de humilhar e destruir vidas chamada Judiciário pois "Não existe sofrimento mais confrangente que o da privação da justiça",  escreveu Rui.

 

Contudo, me sinto satisfeito em ser advogado e feliz nesta data de hoje. Todos nós temos uma missão a cumprir nesta vida ingrata e nela fazemos o melhor, mesmo que este melhor seja o pior.

 

Meu blog é uma barricada de luta contra este filho ilegítimo da República. https://blogdeluizbrasileiro.blogspot.com/


terça-feira, 2 de agosto de 2022

                             CUIDADO COM QUEM VOCÊ CONFIA

 




 Pense muito antes de valer-se do Judiciário para reparar qualquer lesão a um direito seu. Várias razões podem ser juntadas em favor deste ponto de vista, vou enumerar algumas:

1) você terá sua causa julgada por alguém não conhece e não tem nenhum motivo para confiar que fará um julgamento justo;

2) o Judiciário brasileiro é comprovadamente muito ruim, descumpre as leis e principalmente a Constituição cotidianamente, em regra um juiz no Brasil não julga, escolhe quem vai sair vencedor na contenda, e por certo não será você o sortudo;

3) diante deste quadro ao buscar a reparação de um direito que lhe foi subtraído seu prejuízo pode aumentar pois pagará honorários advocatícios, inclusive de sucumbência, custas judiciais, e se for o caso honorários de perito e de assistente técnico, etc.

A verdade é que estamos sem a proteção que as leis oferecem aos cidadãos, principalmente a Constituição, pois está escancarado que o que prevalece são as decisões judiciais arbitrárias.

Para os ditadores de toga a decisão judicial é um ato de vontade (deles) descurando o que consta nos textos legais ou até contra o sentido expressamente ali consignado [1].

Esta situação indecorosa, imoral, e muitas vezes criminosa advinda do poder encarregado de fazer cumprir as leis está sendo cada vez mais trazida para conhecimento da sociedade.

A perseguição ao Presidente Lula é um exemplo do que foi antedito. Sua reação em buscar um julgamento justo peticionando ao Comitê de Direitos Humanos da ONU contribuiu e vai contribuir muito para que um dia possamos reformar o Judiciário e transformá-lo efetivamente em um Poder da República e retirá-lo da condição de longo braço do controle social e político que a fatia mais retrógrada da classe dominante exerce sobre a sociedade.

Rudolf von Ihering escreveu que "o direito reclama uma viril resistência à injustiça". Eu ajunto que não basta lutarmos no varejo contra as decisões injustas, é também um imperativo que reformemos a máquina que as produz.

 

Nota 

[1] Advocacia virou exercício de humilhação e corrida de obstáculos

http://www.conjur.com.br/2016-jul-28/senso-incomum-advocacia-virou-exercicio-humilhacao-corrida-obstaculos