segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019


                    VINTE E DOIS ANOS HOJE


Marques Rebelo (de costas) com: Adalgisa Nery, Jango, Samuel Wainer, Paulo Francis, Jorge Amado, Octavio Malta, Di Cavalcanti, entre outros.

Paulo Francis morreu há vinte e dois anos. Li muita coisa dele mas somente um dos romances. Gostava da crítica cultural e literária que  fazia. A análise e interpretação de Rei Lear ainda estar insuperada, penso.
Gostava de sua prosa desiludida, boêmia, perspicaz. Mas o que aprendi e guardei foi que poucos têm coragem de dizer o que pensam.
Eu sempre tive uma curiosidade incontrolável para conhecer os raciocínios de quem pensa diferente (desde que não seja ofensa, futrica, sacanagem, vida sexual alheia) e encontrei em Francis alguém que pensava diferente e um exemplo perfeito de sincericida.
Meu pai era ateu, o saco de pancadas de minha casa eram as religiões, a hipocrisia e as superstições. Ele teve seis filhos e jamais deu um cascudo em qualquer deles, embora eu ache que tinha quem merecesse. Crescido em um ambiente deste não tem como o sujeito aceitar a capacidade de pensar metida em um cárcere de intimidação.
O fato é que depois de ler artigos de Francis não li textos acadêmicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, da mesma maneira pois estava explicada a razão do pouco valor desta coisa toda, dado que raramente passa de sopa de letras requentada (o sujeito pensa mas não tem coragem para escrever), que se você não ler também não perderá nada.
O isolamento, a desilusão, a incompreensão e o exílio parece que afetaram sua maneira de pensar pois muitas vezes era agressivo demais. Em economia antes de morrer pensava de maneira dogmática incidindo em um liberalismo parecido com o Tea Party e negando o liberalismo filosófico, que é empiricista e pragmático.
Acredito que o fim da experiência estatista tocada aqui pelos militares - que o perseguiram e o compeliram ao exílio - afetou a reação dele à presença do Estado na economia.
Seja como for, pelos erros e pelos acertos, ele deu uma grande contribuição ao debate político.
Em dois de seus livros, O AFETO QUE SE ENCERRA e TRINTA ANOS ESTA NOITE, estão contidas memórias e reflexão sobre ideias e fatos políticos.