VINTE E DOIS ANOS HOJE
Marques Rebelo (de costas) com: Adalgisa Nery, Jango, Samuel Wainer, Paulo Francis, Jorge Amado, Octavio Malta, Di Cavalcanti, entre outros. |
Paulo Francis morreu há vinte e
dois anos. Li muita coisa dele mas somente um dos romances. Gostava da crítica
cultural e literária que fazia. A análise e interpretação de Rei Lear ainda estar insuperada, penso.
Gostava de sua prosa desiludida,
boêmia, perspicaz. Mas o que aprendi e guardei foi que poucos têm coragem de
dizer o que pensam.
Eu sempre tive uma curiosidade
incontrolável para conhecer os raciocínios de quem pensa diferente (desde que
não seja ofensa, futrica, sacanagem, vida sexual alheia) e encontrei em Francis
alguém que pensava diferente e um exemplo perfeito de sincericida.
Meu pai era ateu, o saco de
pancadas de minha casa eram as religiões, a hipocrisia e as superstições. Ele
teve seis filhos e jamais deu um cascudo em qualquer deles, embora eu ache que
tinha quem merecesse. Crescido em um ambiente deste não tem como o sujeito
aceitar a capacidade de pensar metida em um cárcere de intimidação.
O fato é que depois de ler
artigos de Francis não li textos acadêmicos, dissertações de mestrado e teses
de doutorado, da mesma maneira pois estava explicada a razão do pouco valor
desta coisa toda, dado que raramente passa de sopa de letras requentada (o
sujeito pensa mas não tem coragem para escrever), que se você não ler também
não perderá nada.
O isolamento, a desilusão, a
incompreensão e o exílio parece que afetaram sua maneira de pensar pois muitas
vezes era agressivo demais. Em economia antes de morrer pensava de maneira
dogmática incidindo em um liberalismo parecido com o Tea Party e negando o
liberalismo filosófico, que é empiricista e pragmático.
Acredito que o fim da experiência
estatista tocada aqui pelos militares - que o perseguiram e o compeliram ao
exílio - afetou a reação dele à presença do Estado na economia.
Seja como for, pelos erros e
pelos acertos, ele deu uma grande contribuição ao debate político.
Em dois de seus livros, O AFETO
QUE SE ENCERRA e TRINTA ANOS ESTA NOITE, estão contidas memórias e reflexão
sobre ideias e fatos políticos.