LENIN E OS ENROSCOS DO LENINISMO
Hoje, 22 de abril, seria dia do aniversário de
Lenin. Deixou uma obra teórica e feitos que merecem sempre um estudo metódico.
Sua teoria de partido baseado no princípio "poucos, mas bons" foi
decisiva para a tomada do poder em 1917 mas trouxe consequências ainda hoje
discutidas.
Era dogmático e ao mesmo tempo empiricista, tinha
particular talento político para perceber as oportunidades oferecidas pela
conjuntura, principalmente em uma conjuntura em que as instituições desmoronam
com rapidez, como sempre ocorre em uma conjuntura revolucionária. Isto não é
fácil, a política prática é arte, pode ser aprendida mas não pode ser ensinada.
Outra coisa que me causa impressão é que Lenin
quase nunca tinha desavenças pessoais, quase todas giravam em torno da luta
política.
Era formado em direito mas nunca exerceu a
profissão, inventou o conceito de revolucionário profissional e foi um deles
até o fim. Este conceito talhou gente como Ho Chi Minh, Stálin, Trotski,
Bukharin, Arthur Ernest Evert, Olga Benário Prestes e o próprio Prestes, Mário
Alves, Marighella, Gregório Bezerra, entre outros.
Lenin era um homem modesto e realista até mesmo
depois da tomada do poder pois tal como Trotski foi residir nos antigos quartos
destinados aos empregados do Kremlin.
Seu particular faro político impediu de cometer um
erro fatal que seria colocar em prática a destruição do Estado, o que louvava
em um livro, O ESTADO E A REVOLUÇÃO, publicado três meses antes da tomada do
poder em outubro.
Antes da tomada do poder nunca tinha ocupado cargo
executivo, exceto o de dirigente partidário, e se saiu muitíssimo bem como
executivo de um Estado em reconstrução e enfrentando uma contra-revolução
obstinada. Acredito que isto foi devido ao seu conhecimento da ossatura do
Estado adquirido nos estudos em que se formou advogado.
Sabia delegar tarefas e entregou a Trotski a
reconstrução do Exército Vermelho, a coluna vertebral do novo Estado. Sabia que
se não reconstruísse o Estado para vencer a contra-revolução os líderes
Bolcheviques seriam todos fuzilados sem julgamento.
O conceito de partido de Lenin sofreu mutações até
se transformar em um bloco monolítico de autoritarismo na III Internacional, a
Internacional leninista.
Até antes da tomada do poder o partido admitia
divergências tanto que Lenin teve que dar ultimato e ameaçou sair do partido
caso o comitê central não optasse pela tomada do poder poucos dias antes da
Revolução.
O fato é que a transmutação do partido foi tão
grande e comandada pelo próprio Lenin que depois de sua morte Stálin já
controlava a máquina partidária sem discussão pois Lenin tinha proibido o
direito de fração logo depois de ter colocado na ilegalidade todos os outros
partidos.
A obstinação de Lenin, sua capacidade como
organizador e tino político para se conduzir nas baixas e nas arrebentações das
conjunturas foram massificadas pela propaganda stalinista para tentar ofuscar o
papel de Trotski na Revolução de outubro.
Mas não se pode esquecer que se Lenin
foi o líder partidário Trotski foi o líder de massas da Revolução pois foi
presidente do soviete de Petrogrado em 1905 em 1917, quando conduziu e armou
este soviete para a insurreição.
Contudo, este homem modesto impressiona mesmo
depois do grande feito em 1917 pois ao sofrer um atentado em 30 de agosto de
1918 quando Fanni Kaplan, socialista-revolucionária de direita, disparou contra
ele três tiros de revólver, acertando dois, ao ser visitado por Máximo Gorki
indignado disse apenas "Nada a fazer. Cada um age de acordo com suas
luzes."