sábado, 9 de julho de 2016

            SEM CONCESSÕES


                          


Passei uns dias meio sem graça, sem força, e aproveitei para uma reconciliação com a literatura em leituras adiadas há muito. Li três livros, dois de Rubem Fonseca, O CASO MOREL e AGOSTO, e um de política.

Tinha lido dois livros dele sem graça, para mim, VASTAS EMOÇÕES... e BUFO & SPALAZZANI, pareceu comida de cardíaco, uma desgraça. Como faz muitos anos que li vou relê-los pois aos poucos fui mudando o que pensava dos livros dele na medida em que fui lendo outros, parece que o cara tem altos e baixos.

Nos melhores momentos ele escreve com fúria, sem concessões de nenhuma natureza pois neste negócio de literatura é tudo ou nada, se preciso o cara deve colocar um trinta e oito na cinta mas jamais fazer concessão pois quem quer fazer uma boa obra não transige, escreve o que quer e como quer ou nada, é como uma questão de vida ou morte.

O conto dele FELIZ ANO NOVO (1975), que dá nome ao livro, é de lascar (desculpem as mocinhas mas apenas chamo as coisa pelo nome), uma narrativa de mestre em que a crueza e brutalidade dos que cometem crimes violentos contra o patrimônio são expostas à sociedade com igual violência e crueza. Zé Rubem escreveu com fúria e nestes momentos temos que reconhecer que o cara é uma peste, o satanás de asa.

A ditadura não gostou e apreendeu o livro, censurou. Veio depois coisa mais enraivecida, O COBRADOR (1979), em que um ladrão pobre, um assaltante, apresenta sua conta à sociedade com a total falta de compaixão por suas vítimas e a impermeabilidade a qualquer sentimento de culpa que caracteriza este tipo de criminoso.

O realismo de Zé Rubem tem alguma coisa de sociologia, uma percepção do conflito abafado entre ricos e pobres, caracterizado principalmente pelos crimes contra o patrimônio, que lembra a luta de classes, não esta a que se referem os sociólogos, mas a real, a expressa na brutalidade dos crimes dos ladrões violentos.

Outro assunto que sempre está presente em suas obras é o erotismo, e é claro que o Zé trata o assunto sem enfeitar. Confessou recentemente que com quase noventa anos de idade ainda fode. Será que existe alguém que leve na brincadeira um sujeito deste?


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