sábado, 4 de abril de 2020


            A PESTE, A CIÊNCIA E OS FATOS



                          Memes De Ciência (@memesdeciencia) | Twitter


Enclausurado não controlo minha vontade de buscar as causas desta loucura mansa, mas nem tanto, o negacionismo - que conheci quando tive contato com pessoas que diziam que fatos não existiam e a verdade era inalcançável.

Nasci em uma cidade do interior do Estado da Bahia e fui "salvo" do analfabetismo graças ao meu interesse pela ciência e pelo método científico. Meus professores nada me diziam sobre ciência e método científico porque também não sabiam; lá não tinha universidade nem livraria e a biblioteca pública era meia-sola, o que era muito melhor que nada.

Sozinho, cercado de analfabetos por todos os lados (embora pessoas boas como meus familiares) buscava com sofreguidão saber o que era a ciência e o método científico. Li biografias de cientistas, Galileu, Darwin, Newton, Marx, Pierre e Marie Curie, entre outros; os livros não eram bons como os que dispomos hoje mas era os que eu tinha.

Quando entrei no curso de direito já sabia que toda ciência tem um método e um objeto de estudo e sabia o que era um fato e o que era uma hipótese e que esta só se sustenta mediante provas. Não era pouco para quem tinha aprendido pelo próprio esforço.

O direito não é uma ciência, seu método não é o da ciência, aquele firmado e depurado pela epistemologia. O direito é uma técnica de controle social. Seu método, a hermenêutica jurídica, é um conjunto de técnicas e princípios de interpretação de leis.

Na Faculdade de Direito e na FFCH da UFBA encontrei negacionistas empedernidos, aqueles que negam a existência de fatos e por consequência a impossibilidade da ciência e de um conhecimento minimamente objetivo, pautado em fatos, provas e método sistematizado.

Os Códigos de Processo Civil e Penal do Brasil e creio que do resto do mundo incorporaram os avanços da epistemologia no que diz respeito a fatos, hipóteses e provas. Em toda ação, seja cível ou penal, tem o autor o encargo de narrar um ou mais fatos e deduzir as consequências jurídicas que amparam seu pedido sob pena de ser inepta a petição inicial, que na área penal chama-se de denúncia (quando se trata de ação penal pública cujo titular é o Ministério Público).

Pois bem. Com tudo isso exposto nos códigos de processo ainda aparecem negacionistas para dizerem em artigos extensos e amplamente divulgados que a verdade não existe ou é inalcançável em verdadeiro exercício de subjetivismo e ignorância diplomada. 

O negacionismo da ciência vem de muitos anos. O subjetivismo desta gente é tão perturbado que ganhei alguns inimigos por defender que existiam fatos e que fato provado é a verdade, não provado é ficção. Me elogiavam sem querer me chamando de positivista. 

Com a peste se alastrando o valor da ciência tem sido realçado e vários anos de negacionismo e subjetivismo extremo têm se mostrado um equívoco. O negacionismo é um desatino que beira a demência, é a expressão do mais desvairado subjetivismo, a ignorância sem a vergonha de ser ostentada.

Até uma "nova" epistemologia tem sido propalada. Dizem sem nenhuma vergonha que a ciência desenvolvida por Newton, Galileu, Einstein, Niels Bohr, Darwin e outros é branca, eurocêntrica e machista.

Mas os fatos têm o poder de se impor e romper as mais renitentes fantasias. A peste está mostrando que sem a ciência não sobreviveremos e que os vários anos de negacionismo e subjetivismo extremado são coisas ridículas e nocivas.

Com a peste que se espalha, a ciência, que foi tão sabotada e ignorada, vai sair da berlinda por uma questão de sobrevivência e imposição dos fatos.


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