terça-feira, 22 de maio de 2018


         MINHA SOLIDARIEDADE A UM PERSEGUIDO



Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O calvário de José Dirceu
                        

José Dirceu enfrenta seus inimigos quase só, mas com altivez e distanciamento, quase frieza e desprezo. Amigos e os poucos aliados não se empenham em difundirem uma análise dos supostos fatos imputados nos processos. Os inimigos aceitam e divulgam com prazer a versão oficial feita sob encomenda para encarcerar um inimigo.

Acho uma baixeza combater um inimigo com mentiras e fraudes. Mas tem quem goste deste tipo de expediente.

Hipocrisia à parte, afastando os incautos, só não sabe quem não quer que a luta política que se desenrola depois que o PT chegou ao governo federal é para manter a atual organização econômica semi escravocrata ou rompermos com ela de vez.

A população não sabe com muita clareza o que está em curso no país, mas sabe que o golpe de 2016 foi contra ela, para retirar-lhes direitos e conquistas. Mas vamos ser justos, até quem frequentou universidade tem sido enganado, o que mostra o nível de colonização de nossas universidades.

A inserção do Brasil na economia mundial, sua posição subalterna por mecanismos políticos internos, é desconhecida mesmo depois dos trabalhos de Florestan Fernandes, Celso Furtado e Caio Prado. É inacreditável para um estrangeiro o nível de ignorância sobre nós mesmos cultivado nas universidades.

Nunca chegamos tão perto de nos firmarmos como nação como nos doze anos em que o PT governou o país. É aí que entram o PT, Dirceu, Lula, Delúbio Soares, Genoíno e outros perseguidos recentemente na narrativa infame que lhes é imputada, acusam de serem todos ladrões, corruptos, gananciosos afanadores do dinheiro público.


É neste contexto que é preciso averiguar se são verdadeiras as imputações feitas a todos eles e particularmente a José Dirceu.

Na AP 470 imputam ao Zé entre outros absurdos a prática de corrupção ativa, dizem que colaborou para comprar deputados. Na operação de Sérgio Moro sapecam lavagem de dinheiro, ter recebido propina e outras infâmias.

Tudo mentira. Mas quantos terão tempo, paciência e interesse para checar as narrativas imputadas ao cara? É mais fácil acreditar nas lorotas jurídicas e na Rede Globo.

Mas estas narrativas só durarão enquanto existir quem no Poder Judiciário as sustentem. Quando os golpistas forem chutados do poder quem sabe o que ficará de pé? Sem dúvidas que a verdade florescerá.

Tomar o poder por um golpe de Estado é uma tremenda entalada. Uma coisa é certa: não é possível governar o país sem eleições. E como eles vão pedir votos se nem a classe média foi beneficiada com o golpe?

Outra certeza: não é possível deter uma tendência social e política sem mortes. O que então os golpistas irão fazer? Se fizerem uma ditadura como e quando sairão do poder sem serem julgados pelos crimes cometidos?

Dirceu sabe que ciclos políticos findam cada vez mais rapidamente. Ele estima que este ciclo inaugurado pelo golpe de 2016 findará em cinco ou seis anos. Veremos. Em 64 Jango disse que a ditadura não duraria 10 anos; durou 21.

Costa e Silva quando participou do golpe em 64 esteve na ALBa e disse em discurso que os militares no poder virariam o milênio; durou 21 anos. Durou muito menos do que eles pensavam.

Existe muita incerteza quanto ao futuro mas em política as opções são limitadas. Uma opção para eles é a democracia restrita à maneira colombiana onde partidos políticos de esquerda e movimentos sociais foram banidos da vida política pelo assassinato constante das lideranças.

Ando pensando que os golpistas trabalham com esta opção pois como eles podem disputar eleições se nem a classe média pode ser incluída como parte beneficiária do golpe?

Dirceu é muito arguto e vê longe. Pela última entrevista [1] que deu antes de ser preso parece que vê também esta possibilidade. Aguardemos o desenrolar dos fatos pois a política é arte do possível e do que muitas vezes parece impossível.

Nota

[1] EXCLUSIVO | Zé Dirceu: Subestimamos a direita e politizamos pouco a sociedade

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