segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

          "A VIDA QUER É CORAGEM"
                         
Dilma aos 22 anos na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro em novembro de 1970. Foto inédita constante dos autos do processo na Justiça Militar.

A revista ÉPOCA de 5 de dezembro de 2011 nas páginas 70/74 noticia o lançamento de uma biografia da Presidenta Dilma Roussef, A vida quer coragem, feita pelo jornalista Ricardo Amaral, publicada pela Editora Primeiro Plano e a ser posta nas livrarias na primeira quinzena deste mês. 

A luta armada

A passagem mais flamejante até agora da vida da Presidenta é muito conhecida, é sua participação na luta armada contra a ditadura dos militares (1964-1985). A luta contra a ditadura em seu próprio campo, terçando armas, travada por um punhado de brasileiros heróicos é um dos episódios mais discutidos e mais distorcidos pelos meios de comunicação de que se tem notícia.

Toda a grande imprensa pregou o golpe para depor Jango em 1964. Todos os grandes jornais colaboraram com a ditadura. A Folha da Tarde era o porta-voz da OBAN e a Folha de S. Paulo emprestava seus veículos para a campana dos criminosos encarregados da repressão, sequestro, tortura e morte dos resistentes. Somente para evitar qualquer notícia incômoda a ditadura colocou censores nas redações. 

A regra é que todos os grandes jornais sempre se dirigiram aos resistentes chamando-os de terroristas para baixo; atualmente chamam até de guerrilheiros, mas continuam sem reconhecer o heroísmo destes civis que resolveram dar algum tipo de resposta à humilhação imposta pelos coturnos. 

Uma das formas de tentar diminuir o heroísmo destes civis é divulgar a tese de que a luta armada foi um equívoco e que os responsáveis pela derrota da ditadura foram os que tocaram a política pacifista, tais como o PCB, Tancredo, Chico Pinto, Pedro Simon, etc. 

Por engano ou por deliberada mentira é inaceitável que se divulgue esta falsificação da verdade histórica à vista do fato de que quem pôs fim à ditadura não foi a política pacifista de quem quer que seja. Quem pôs fim à ditadura aquartelando o Exército e restaurando o Estado de Direito foi o próprio Exército através da facção chamada "castelista" ou "grupo da Sorbone", em alusão à ESG onde muitos deles tinham sido instrutores ou sido formados.

A facção "castelista" comandada por Geisel (1974-1979) e Golbery que antes tramou desrespeitando todas as leis, principalmente a Constituição de 1946, para depor um Presidente eleito pelo povo, Jango, e usurpar o poder em 1° de abril de 1964 enquadrou a outra facção chamada de "linha dura" restaurando a hierarquia e a disciplina demolida pelos baderneiros defensores da ditadura sem prazo para terminar. 

A tentativa civil de derrubar a ditadura pelas armas fracassou mas isto não invalida a tese de que só a força vence a força. Ilustremos esta situação com um fato histórico onde as duas teses são encarnadas no pacifismo de Gandhi e na belicosidade de Hitler. É eloquente que o primeiro jamais venceria o segundo; para impor uma derrota a este só Exércitos melhor armados e treinados, como de fato aconteceu. 

Assim, considero um equívoco atribuir a derrota da ditadura à política pacifista dos democratas que correram para debaixo da cama, para melhor defender a democracia - só pode ser. 

Outra tentativa de subtrair o heroísmo destes brasileiros é atribuir a intenção de combater uma ditadura para substituí-la por outra, acusam  de serem todos comunistas. 

A verdade é que comunista ou não, nenhum inimigo de uma ditadura é ilegítimo e em princípio nenhum método para combatê-la é condenável. Atribuir a todos os que fizeram a luta armada o propósito de querer implantar outra ditadura é desconsiderar alguns fatos. Por exemplo, a Guerrilha de Caparaó não foi uma tentativa de guerrilha feita por comunistas; as organizações guerrilheiras tais como VPR, VAR-Palmares, ALN, MR-8 eram quase todas formadas por dissidências do Partidão e não tinham a URRS como modelo. Feita por comunistas e por um dos Partidos Comunistas foi a Guerrilha do Araguaia (1972-1974) conduzida pelo PC do B.

A ALN de Marighella não era um Partido Comunista. A ruptura dele com o Partidão foi profunda e dizia respeito principalmente à teoria organizacional leninista, ao Partido Comunista como organização de revolucionários. Por ter rompido com o leninismo Marighella quando morreu não era mais comunista, daí não se pode dizer que ele defendia outra ditadura para substituir a que combatia.

Considero que desqualificar pessoas que estavam em franca dissidência com o comunismo como imbuídas do propósito de derrubar uma ditadura para implantar outra uma injustiça pois este julgamento não se ampara em fatos.

O desejo de liberdade

Uma ditadura é uma afronta a cidadãos dignos e livres. É preciso que se entenda isso para poder julgar a tentativa civil de pôr fim à ditadura dos militares pela luta armada pois é flagrante a desigualdade de armas. 
Empregar o critério da possibilidade de vitória da tentativa civil de derrotar a ditadura para apreciar seu acerto é não entender que existem cidadãos dotados de uma consciência tão forte e arraigada de sua dignidade e liberdade que não se deixam intimidar e ou serem postos de joelhos por mais desvantajosa que seja a desigualdade de forças. 

Spártaco e Zumbi dos Palmares não lutaram por vislumbrar no horizonte a vitória mas para preservar a dignidade e a liberdade. Se pensassem em vitória teriam vivido como bons escravos, a melhor escolha para os que têm vocação para o cativeiro nas situações em que a vitória não está no horizonte. 

A luta armada dos civis para por fim à ditadura dos militares foi um épico em nossa história, só encontrando paralelo no episódio do cerco feito pelo Exército e a resistência oferecida pela população civil no arraial de Canudos, extraordinário acontecimento perenizado na monumental obra de Euclides da Cunha. 

É indubitável que é uma injustiça com pessoas tão corajosas e dignas tentar diminuir a grandeza do desprendimento e a coragem que exigiu aquele   combate.

Nenhum comentário:

Postar um comentário