terça-feira, 23 de abril de 2019


                                   LENIN E OS ENROSCOS DO LENINISMO





Hoje, 22 de abril, seria dia do aniversário de Lenin. Deixou uma obra teórica e feitos que merecem sempre um estudo metódico. Sua teoria de partido baseado no princípio "poucos, mas bons" foi decisiva para a tomada do poder em 1917 mas trouxe consequências ainda hoje discutidas.

Era dogmático e ao mesmo tempo empiricista, tinha particular talento político para perceber as oportunidades oferecidas pela conjuntura, principalmente em uma conjuntura em que as instituições desmoronam com rapidez, como sempre ocorre em uma conjuntura revolucionária. Isto não é fácil, a política prática é arte, pode ser aprendida mas não pode ser ensinada.

Outra coisa que me causa impressão é que Lenin quase nunca tinha desavenças pessoais, quase todas giravam em torno da luta política.

Era formado em direito mas nunca exerceu a profissão, inventou o conceito de revolucionário profissional e foi um deles até o fim. Este conceito talhou gente como Ho Chi Minh, Stálin, Trotski, Bukharin, Arthur Ernest Evert, Olga Benário Prestes e o próprio Prestes, Mário Alves, Marighella, Gregório Bezerra, entre outros.

Lenin era um homem modesto e realista até mesmo depois da tomada do poder pois tal como Trotski foi residir nos antigos quartos destinados aos empregados do Kremlin.

Seu particular faro político impediu de cometer um erro fatal que seria colocar em prática a destruição do Estado, o que louvava em um livro, O ESTADO E A REVOLUÇÃO, publicado três meses antes da tomada do poder em outubro.

Antes da tomada do poder nunca tinha ocupado cargo executivo, exceto o de dirigente partidário, e se saiu muitíssimo bem como executivo de um Estado em reconstrução e enfrentando uma contra-revolução obstinada. Acredito que isto foi devido ao seu conhecimento da ossatura do Estado adquirido nos estudos em que se formou advogado.

Sabia delegar tarefas e entregou a Trotski a reconstrução do Exército Vermelho, a coluna vertebral do novo Estado. Sabia que se não reconstruísse o Estado para vencer a contra-revolução os líderes Bolcheviques seriam todos fuzilados sem julgamento.

O conceito de partido de Lenin sofreu mutações até se transformar em um bloco monolítico de autoritarismo na III Internacional, a Internacional leninista.

Até antes da tomada do poder o partido admitia divergências tanto que Lenin teve que dar ultimato e ameaçou sair do partido caso o comitê central não optasse pela tomada do poder poucos dias antes da Revolução.

O fato é que a transmutação do partido foi tão grande e comandada pelo próprio Lenin que depois de sua morte Stálin já controlava a máquina partidária sem discussão pois Lenin tinha proibido o direito de fração logo depois de ter colocado na ilegalidade todos os outros partidos.

A obstinação de Lenin, sua capacidade como organizador e tino político para se conduzir nas baixas e nas arrebentações das conjunturas foram massificadas pela propaganda stalinista para tentar ofuscar o papel de Trotski na Revolução de outubro. 

Mas não se pode esquecer que se Lenin foi o líder partidário Trotski foi o líder de massas da Revolução pois foi presidente do soviete de Petrogrado em 1905 em 1917, quando conduziu e armou este soviete para a insurreição.

Contudo, este homem modesto impressiona mesmo depois do grande feito em 1917 pois ao sofrer um atentado em 30 de agosto de 1918 quando Fanni Kaplan, socialista-revolucionária de direita, disparou contra ele três tiros de revólver, acertando dois, ao ser visitado por Máximo Gorki indignado disse apenas "Nada a fazer. Cada um age de acordo com suas luzes."


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