sexta-feira, 30 de março de 2018

        CRISTO, VERDADE, JUSTIÇA E JUDICIÁRIO

Li os Evangelhos com muito interesse no julgamento de Cristo, interessava-me saber da justiça do julgamento, primeiro, qual o crime imputado, depois, se o processo tinha sido viciado para a obtenção da condenação do réu

Para mim parece indubitável que o cara pregou uma mensagem que colidia com o pensamento dominante de qualquer época, pregou o amor, a redenção do mal e da violência pela não-violência.

Como o cara era um bom orador e sabia transmitir uma mensagem e a mensagem tinha um público ávido para ouvi-la rapidamente se espalhou.

Como até agora nenhum Estado abdicou da violência para impor suas leis bem como nenhuma elite renunciou ao desejo de se perpetuar, a elite intelectual do sinédrio se sentiu ameaçada pela mensagem do desafiante.

O Império Romano também procurou saber se a pregação se tratava de mensagem contra seu domínio e se o pregador era algum sedicioso.

A posição do Império Romano é bem expressa no veredito de Pôncio Pilatos, "Não vejo crime." Para o sinédrio a mensagem era abertamente uma insubordinação, sem dúvidas que não revidar o mal com o mal contradiz o “olho por olho, dente por dente” que atravessa todo o Velho Testamento.

O resumo da tragédia é que o julgamento traz consigo um simbolismo inexcedível para o mundo ocidental no que diz respeito a justiça, verdade e Judiciário: um semideus foi condenado pelo povo - que absolveu o bom ladrão - sem ter cometido crime e Pôncio Pilatos é o arquétipo acabado do mal juiz.

Todo mal juiz põe em dúvida a verdade ou a possibilidade de conhecê-la. Pilatos se deu mal com sua perguntinha cínica: "O que é a verdade?"

O estigma que o sacripanta se infligia com seu julgamento infame ficou indelével quando pronunciou a inesquecível frase lema dos cínicos diante das injustiças: "Lavo minhas mãos."


Para coroar a mensagem e completar a narrativa-signo a condenação de Cristo foi feita pela sociedade, algo parecido com o Tribunal do Júri dos dias de hoje. O mal juiz não é apenas Pilatos, o governador romano, mas a própria sociedade, o ser humano que não é lá coisa que muito preste quando o assunto é justiça.



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