A DITADURA QUE SE AVIZINHA
Esta semana as palavras do General Mourão e do General Vilas Boas [1] provocaram nuvens negras no céu da política pois pela primeira vez depois da ditadura instalada em 1964 o Exército fala abertamente em tomar o poder e fazer outra ditadura.
As Forças Armadas constituem a coluna vertebral do
Estado brasileiro, elas garantem a soberania, i. é, a aplicação das leis em todo o
território nacional. Colocá-las no poder obviamente em uma ditadura contra o
povo é um tremendo tiro no pé pois será rachar esta coluna e os militares um
dia se dividirem e se matarem. A luta pelo poder junta mas também divide.
Os EUA em 1964 tramou dividir o país
territorialmente em dois ou três caso houvesse resistência ao golpe em
Pernambuco com Arraes e no Rio Grande com Brizola. Selaria esta divisão
reconhecendo apenas o governo golpista instalado em Minas Gerais governado na
época por Magalhães Pinto, golpista de primeira hora.
Jango Goulart sabia deste intento, foi visto como
covarde aos olhos de muitos, mas não permitiu que os EUA fizessem com o Brasil
o que já tinham feito com a Coreia, com o Vietnam e tinham tentado com algum
sucesso com a China ao criar o embaraço para o governo chinês chamado Taiwan.
Com as vitórias sucessivas do PT depois de 2002 e
sabendo que não voltaria ao poder por eleições o condomínio direitista
capitaneado pelo PSDB e o DEM passou a ter como objetivo fazer outra ditadura,
usar os militares para deter a atual tendência reformista da sociedade brasileira.
Mas os militares depois do golpe de 1964,
principalmente os do Exército, estavam escarmentados, chamados de assassinos,
torturadores, estupradores, covardes, traidores do povo brasileiro, daí o
insucesso de atraí-los para outra ditadura até o momento.
Contudo, depois das falas dos dois generais
percebe-se claramente que alguma coisa mudou nos quartéis. O problema maior é
que as Forças Amadas brasileiras estão sob controle dos EUA, que as utiliza
como tropa de ocupação contra os nacionais.
O golpe contra o mandato da Presidenta Dilma é uma
conta que não fecha sem que os golpistas provoquem uma baixa nos recursos
humanos da esquerda e da própria classe política brasileira pois só assim retardarão por mais tempo a tendência reformista inaugurada com a Revolução de 1930.
Vejamos os exemplos: na Argentina entre os anos de 1976 e 1983 os
generais comandaram uma ditadura que matou e fez desaparecer 30 mil civis,
constando nesta lista macabra mulheres grávidas, crianças, adolescentes e
idosos.
No Chile a ditadura que se instalou em setembro de
1973 no golpe de Estado conduzido localmente por Pinochet matou e desapareceu
no total 3.225 pessoas.
A ditadura no Brasil (1964-1985) foi mais seletiva
e quando começou a matar muita gente já estava no exílio ou oficialmente presa. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) instalada em
2012 por empenho direto da Presidenta Dilma Roussef e criada por meio da Lei 12.528/2011
apurou e lançou em seu relatório final 434 mortes e desaparecimentos causados
pelo aparelho repressivo da ditadura civil-militar.
Os desaparecidos são 210 e as
famílias, apesar de todo o empenho, ainda não puderam dar um enterro digno a
seus restos mortais. Ditadura é recurso extremo da luta política. Todas
as ditaduras são cruéis e homicidas porque está implícita a ilegalidade e o
crime nesta forma de governo, o uso da prisão ilegal, da tortura e do homicídio
como meios políticos para exterminar os quadros políticos qualificados dos
considerados por ela inimigos.
Pelo que conhecemos delas da América Central para
baixo só com ditaduras as classes dominantes locais subalternas ao império
conseguem deter as tendências reformistas. Portanto, barbas de molho pois
enquanto o PSDB e o DEM estiverem no poder coisa boa não vem por aí.
Nota
[1] Villas Bôas reage à polêmica declaração de general sobre intervenção
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