UM INSTANTE NA HISTÓRIA
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Cid Benjamin ampara Vera Sílvia impossibilitada de se pôr em pé depois das torturas sofridas em um Quartel do Exército. Foto de 1970 guardada no Arquivo Nacional em Brasília. |
Ao ver
esta fotografia hoje, 24/11/13, divulgada pela Folha de São Paulo fiquei comovido
pela grandeza e coragem de alguns brasileiros. Na foto estão duas pessoas, Vera Sílvia Magalhães e Cid Benjamim, ainda jovens.
Na data desta fotografia, 1970, Vera e Cid tinham 21 anos de idade e pertenciam ao MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), uma dissidência do Partidão sediada no então Estado da Guanabara.
Eles fizeram parte de uma imensa legião de cidadãos brasileiros pelos quais sempre tive incomensurável admiração, respeito e um profundo sentimento de fraternidade, os bravos camaradas que fizeram a resistência armada contra os criminosos que assaltaram o poder em 1964 rompendo a legalidade, principalmente tornando sem efeito a Constituição de 1946.
Na data desta fotografia, 1970, Vera e Cid tinham 21 anos de idade e pertenciam ao MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro), uma dissidência do Partidão sediada no então Estado da Guanabara.
Eles fizeram parte de uma imensa legião de cidadãos brasileiros pelos quais sempre tive incomensurável admiração, respeito e um profundo sentimento de fraternidade, os bravos camaradas que fizeram a resistência armada contra os criminosos que assaltaram o poder em 1964 rompendo a legalidade, principalmente tornando sem efeito a Constituição de 1946.
Vera Sílvia faleceu em 2007 vitimada por um câncer; Cid está em plena forma e atuante, recentemente publicou o livro de memórias e reflexão sobre sua militância na luta armada com um título que é um verso: "Gracias a la vida - memórias de um militante".
Ao romperem com o Partidão, que tinha como modelo de socialismo a URSS, os jovens militantes daquela época deram o passo inicial para libertar a esquerda dos dogmas do marxismo-leninismo, abriram o caminho para a existência de um partido de esquerda como o PT, um partido organizado em bases teóricas completamente distintas da teoria leninista de partido.
0s dois participaram da captura do embaixador americano Charles Burke Elbrick em 5 de setembro de 1969 - que foi trocado pela liberdade de 15 presos políticos embarcados no conhecido
Hercules-56
para o México[1]; entre eles estava José Dirceu.
Foram presos e torturados pouco tempo depois da libertação do embaixador.
Segundo Vera[2]
Cid lutava karatê e enfrentou os celerados da repressão em luta corporal no ato de sua prisão, foi ferido na cabeça e levou 15 pontos no ferimento, a frio, sem anestesia, dados pelo médico e auxiliar de tortura Amilcar Lobo
(recentemente o próprio Cid respondeu a uma pergunta feita por mim
sobre seus conhecimentos de karatê e me afirmou pelo Facebook que tinha
praticado judô quando criança).
Os dois jovens guerrilheiros só ganharam a liberdade e o exílio quando foram trocados juntamente com mais 38 presos políticos pelo embaixador alemão Erenfried von Holleben[3] capturado e trocado em junho de 1970 em uma ação comandada por Eduardo Collen Leite, o intrépido Bacuri.
Vera dizia que só os melhores de sua geração
optaram pela luta armada. Não tenho dúvidas da verdade desta afirmação da bela
e destemida ex-guerrilheira. A sociedade brasileira foi vergada pelo terror de
Estado, instituições como o Judiciário e o Ministério Público foram reduzidas a
nada pela violência ou ameaça, promotores e juízes que hoje se arvoram
arautos da legalidade lamberam os coturnos, muitos deles espontaneamente. . .
Só aqueles cidadãos que
não aceitaram se deixar pôr de joelhos, não se deixaram vergar e intimidar, ofereceram resistência
pelo único meio possível, terçando armas com os homicidas que ocuparam o poder
e seus pistoleiros das polícias e aparato clandestino de repressão.
A foto perpetua um instante na história e também a coragem e honradez de quem não correu para debaixo da cama, não se deixou vergar e intimidar pelos criminosos que por mais de 20 anos mandaram nesta República.
A foto perpetua um instante na história e também a coragem e honradez de quem não correu para debaixo da cama, não se deixou vergar e intimidar pelos criminosos que por mais de 20 anos mandaram nesta República.
[1] O
livro "HÉRCULES 56" e o
documentário com o mesmo nome, os dois de Silvio da Da-Rin, contêm o
depoimento de alguns ex-guerrilheiros que participaram da ação e dos presos
políticos libertados. http://www.youtube.com/watch?v=xxPNQfNpkOo
[2] Documentário
disponível no Youtube: "Vera Sílvia Magalhães - A história de uma
guerrilheira" - http://www.youtube.com/watch?v=8OLiyKj08eU
[3] Alfredo
Sirkis em seu livro "OS CARBONÁRIOS" narra com riqueza de pormenores a
captura e troca do embaixador alemão.
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