Qual o significado das manifestações do Movimento Passe Livre – MPL?
As
manifestações conduzidas pelo MPL continuaram ontem, terça-feira (18/junho), com 50 mil pessoas nas ruas de São Paulo (segundo
o instituto DataFolha), onde ocorreram algumas depredações de parte do prédio
da Prefeitura, saques de lojas, incêndio de um carro da TV Record.
Em
Belo horizonte 8 mil pessoas foram às ruas, com conflito violento apenas no
final quando um grupo de punks tomou a decisão de quebrar as vidraças do prédio
da Prefeitura. Em Florianópolis a PM estima que 50 mil pessoas foram às ruas,
fecharam duas pontes, mas não ocorreu nenhum conflito violento. As redes
sociais noticiam que ocorreram manifestações em outras cidades do país.
Todo o país tenta decifrar
para onde politicamente vão nos conduzir estas manifestações. Pela dimensão das
manifestações, um fato se tornou inconteste, a liderança do MPL convoca as manifestações, mas não controla
quem vai participar, se já teve, hoje não tem mais este controle. Isto
implica que grupos de direita e provocadores estão infiltrados para depreciarem
o movimento, constatada as depredações e palavras de ordem completamente em
desacordo como os objetivos da manifestação, como constatou o jornalista
Rodrigo Viana[1]
da TV Record.
Outros
significados podem ser extraídos destas manifestações. Sem dúvida que com elas está ocorrendo um intenso processo de
politização, as pessoas acreditando que retomaram as rédeas de seus
destinos e que podem construir uma vida diferente. Novos líderes vão surgir,
outros vão ter sua liderança consolidada e uns verão erodido o solo em que
pisavam.
De
qualquer maneira, nada ocorrerá a curtíssimo prazo, vai ser preciso ocorrer
eleições, mais enfrentamentos e tempo para que a nova liderança se firme pois
um líder político leva tempo para se formar em um duro e penoso processo.
Pela
dimensão das manifestações tudo leva a crer que quando cessarem teremos um país
muito mais à esquerda no espectro político, com o Congresso Nacional muito mais
pressionado no sentido de tornar mais efetivas as medidas distributivas de
renda e justiça social.
O
MPL existe desde 2006, sua liderança
é jovem, está em processo de aprendizado, que vai se consolidar nestes dias
ardentes e inesquecíveis em suas vidas.
O
êxito do movimento, a obtenção do objetivo a que se propôs e razão de sua
existência, ainda está longe de ser alcançado, transporte de massa de qualidade
e gratuito só virá com uma reviravolta espetacular na correlação de forças
políticas, a erosão completa do habitat
das forças conservadoras na sociedade brasileira, processo que já iniciou nos
últimos dez anos mas ainda está longe de ser concluído.
A
mídia foi colhida de surpresa, e como sempre no que diz respeito a
reivindicações do povo ela foi contra, chamou a todos os participantes de
vândalos, pediu repressão na quinta-feira; mas quando percebeu 100 mil pessoas
nas ruas de São Paulo e igual número na cidade do Rio de Janeiro na sexta-feira,
mudou a fala, não ficaria mal com a sociedade mais do que já estar.
No
entanto, esta lua-de-mel será brevíssima, à vista de que os objetivos do MPL colidem com os dos barões da mídia. Assim, quanto
mais o movimento entrar em descenso mais a mídia o hostilizará; contribuirá
para isso não divulgando o dia, horário e local das manifestações.
A
hostilidade da mídia terá conseqüências. A
ação da polícia é muito sensível ao que é veiculado na mídia pois é comandada
por um político, no caso de São Paulo, o governador Alckmin. A polícia
só reprimirá com o sinal verde da imprensa.
As
manifestações conduzidas pelo MPL não
atingiram o PT, mas estão chegando
perto. A realidade política é
psicológica; a disputa
política é pela opinião púbica. Desta maneira em determinadas
circunstâncias um partido ou um político podem ir do céu a inferno em questão de
horas.
As
manifestações até agora não foram conduzidas contra o PT mas se no final este
for responsabilizado pelo caos em que se transformou a vida nas grandes cidades,
e particularmente em São
Paulo, pagará caro por seus erros.
É
evidente que para que o PT seja responsabilizado pelo inferno em que se
transformaram as grandes cidades com seus sistemas de transporte de massa terá que ocorrer uma baita manipulação
da opinião pública.
A
verdade é que a infra–estrutura das grandes cidades, principalmente o sistema
de transporte de massa, demanda investimentos de elevadíssimas quantias e não é
possível financiá-lo sem tributar os ricos e muito ricos, que pagam quantias
irrisórias no atual Sistema Tributário Nacional imposto ao povo na Constituição
de 1988 pelo “centrão”[2].
A
injustiça na tributação, fato em que os empregados pagam mais impostos que os
patrões, é a mais importante causa da concentração de renda e desigualdade
entre as classes sociais no Brasil pois além de quase não pagarem impostos e
viverem nababescamente os muito ricos usufruem igualmente da pouca
infra-estrutura financiada pelos mais pobres em um parasitismo só visto em
países africanos.
Resta
saber se as vítimas deste sistema econômico-tributário semi- escravocrata
entenderão quem são realmente seus inimigos, aqueles que lhes puseram os grilhões que o Partido dos
Trabalhadores vem tentando romper desde sua fundação.
Tudo
leva a crer que os movimentos decisivos desta batalha foram cometidos ou
relegados muito antes, agora é apenas o momento da colheita, a semeadura ficou
bem lá atrás.
[1]“Foda-se o Brasil”, gritava o rapaz em SP
[2] O “centrão” como ficou conhecido o Centro
Democrático era um ajuntamento político que agregava os grupos mais
conservadores da sociedade brasileira e reunia a maioria dos congressistas que
urdiram a Constituição de 1988. Nele estava a nata do que existia de mais
reacionário no país, membros do PFL, PDS, PMDB, PTB e de outros partidos sem
significância numérica.
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