Hoje, 1º de abril de 2013, faz 49 anos da ocorrência do golpe
militar que mergulhou o país na mais perversa ditadura do período republicano.
Em um levantamento provisório e estimado por baixo, enquanto durou o regime de banditismo oficial aproximadamente 50 mil pessoas passaram por prisões por motivos políticos, aproximadamente 20 mil foram submetidas a torturas, 360 militantes de esquerda foram assassinados, somados os mortos e os desaparecidos (levantamento atualizado aponta 379), 11 mil indiciados e processados em 800 processos por crimes contra a segurança nacional, centenas de condenações a penas de prisão, 4 condenações a pena de morte, 130 banidos, 780 cassações de direitos políticos por dez anos, milhares de exilados, incontáveis reformas, aposentadorias compulsórias, e exoneração do serviço público por atos arbitrários dos detentores do poder.[1]
Em um levantamento provisório e estimado por baixo, enquanto durou o regime de banditismo oficial aproximadamente 50 mil pessoas passaram por prisões por motivos políticos, aproximadamente 20 mil foram submetidas a torturas, 360 militantes de esquerda foram assassinados, somados os mortos e os desaparecidos (levantamento atualizado aponta 379), 11 mil indiciados e processados em 800 processos por crimes contra a segurança nacional, centenas de condenações a penas de prisão, 4 condenações a pena de morte, 130 banidos, 780 cassações de direitos políticos por dez anos, milhares de exilados, incontáveis reformas, aposentadorias compulsórias, e exoneração do serviço público por atos arbitrários dos detentores do poder.[1]
Estes dados estatísticos são significativos mas
não revelam toda a extensão do dano causado à sociedade no que diz respeito ao
estiolamento das instituições, humilhação, escárnio e terror pelos quais
passaram várias gerações enquanto durou a ditadura.
O Exército ao tomar o poder com o golpe de Estado
de 1º de abril de 1964 e instalar uma ditadura contra o povo se voltou contra a
sociedade, principalmente contra os cidadãos altivos, que passaram a ser
tratados como inimigos declarados ou olhados com hostilidade e suspeição pelos
usurpadores do poder.
Uma ditadura para justificar sua violência precisa
de inimigos, reais ou inventados, e para tanto, espezinha, desafia e provoca os
cidadãos para a briga. Os mais altivos combatem-na com todos os meios e armas
disponíveis, como deve ser.
Foi assim inventando inimigos, desafiando e espezinhando os cidadãos que a ditadura dos militares subjugou todas as instituições da sociedade
brasileira não obstante os fatos demonstrarem que o golpe teve um nítido viés classista. As centrais sindicais
da época, PUA – Pacto de Unidade e Ação
-, e CGT – Comando Geral dos
Trabalhadores – logo após o golpe foram postas na ilegalidade. Em 21 anos de
ditadura mais de 3.000 sindicatos foram fechados e colocados sob intervenção,
nenhum era do patronato ou dirigido por sindicalistas corruptos.
Não devemos jamais esquecer que abolido o direito
de greve pela ditadura, a massa assalariada ficou submetida a regime de
trabalho semi-escravo, constatada a
impossibilidade de organização sindical.
Instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de
Imprensa, Congresso Nacional, sucumbiram todas, exceto parte da Igreja Católica
- aquela fração que não apoiou o golpe -, isto porque os militares não podiam
retirar os empregos de padres, bispos ou cardeais.
O ponto
final posto à ditadura foi obra do próprio Exército, e como é sabido, a
tentativa civil de derrotá-la, apesar de todo heroísmo e desprendimento não foi
bem sucedida. Com o fim da ditadura (1964-1985) o Exército foi taticamente
derrotado, sua ala denominada de “linha dura” foi enquadrada e aquartelada pelo
“grupo da Sorbonne” ou castelistas, seguidores de Castelo Branco (1964-67),
alijados do poder com a ascensão de Costa e Silva (1967-69) e Médici (1969-74),
que retornaram ao poder com Geisel (1974-79).
O grupo castelista liderado por Geisel e
Golbery - os mesmos que tinham conspirado para depor Jango atentando contra a democracia
e a República -, voltou ao poder para retirar o Exército da entalada em que tinha
entrado: tomar o poder golpeando a soberania popular, fazer uma ditadura
pondo-se contra o povo e não ter prazo e nem saber como sair do poder sem ter culpabilizados
pelos desmandos e crimes de diversas naturezas.
Foi desta maneira que o Exército foi taticamente
derrotado mas estrategicamente vencedor pois a longo prazo a sociedade
brasileira estaria grandemente moldada nos termos almejados pelos assaltantes
do poder em 1964: “A essência das ditaduras não está naquilo que elas fazem para se
perpetuar, mas naquilo que a partir de certo momento já não precisam fazer.”[2]
Os danos morais – covardia, delação, puxa-saquismo
É desta maneira que se pode entender que uma ditadura não termina com seu fim
oficial, suas marcas e danos
causados às instituições, valores e psicologia social permanecem por muito
tempo, tanto no sentido de repulsa como de permanência do que foi inoculado à
força no tecido social.
Sabedor de que
o poder tem origem psico-sociais, o Exército aplicou-se em moldar e criar
novos hábitos, costumes, moral e psicologia de massas para obter algum
consentimento do povo. Assim, valeu-se largamente da cenoura e do porrete
para formar o tipo de cidadão que servia à perfeição para seu desiderato ditatorial.
Quem não se deixasse submeter pela força
das armas teria que está disposto a morrer, ser torturado, cumprir longas penas
ou passar por processos administrativos e judiciais humilhantes ou buscar
rapidamente o caminho do exílio.
É sabido que a consciência cívica de que os detentores do poder não podem exercê-lo de maneira tirânica - algozes do cidadão a lhe suprimir direitos
fundamentais e infligir tormentos e humilhações -, dificilmente está ao
alcance de analfabetos e semi-analfabetos.
Deste modo, a ditadura iniciou de imediato a perseguição
a artistas, cientistas, intelectuais e o desmonte da escola pública, começando
por lhe retirar a qualidade por todos os meios possíveis, da destruição da
carreira de professor pelo aviltamento dos salários à supressão de métodos que
imprimiam melhor qualidade ao ensino, coisas que até hoje, passados vinte e
quatro anos do fim oficial da infame ainda não foram recuperadas.
Para impor o medo e controlar a sociedade pela
coação o Exército turbinou seu próprio aparato de espionagem e repressão, a
chamada 2ª Seção, organizando os DOI-CODI’s, mas acima de tudo para este serviço
sujo contou com as polícias civis e militares, a polícia federal e as
famigeradas DOPS – Delegacias de Ordem Política e Social.
Mesmo se valendo da força para se impor aos
opositores pela tortura, ameaça ou assassinato, para pôr de joelhos, intimidar ou aniquilar os
que não se deixavam submeter, a delação,
a subserviência e a bajulação foram incentivadas e
premiadas ao máximo pelos usurpadores do poder.
O Exército sabia que sem uma corrente de
apoio de incontáveis puxa-sacos nenhuma ditadura se firma. Foi este
tipo de cidadão, o puxa-saco, que
caiu nas graças do Exército, que obteve emprego no Estado sem concurso público,
financiamento com juros subsidiados e todos os tipos de benesses usados pela
ditadura para cooptar e obter alguma legitimidade.
Estes
métodos usados pela ditadura para obter o silêncio dos cidadãos marcou
profundamente a sociedade brasileira, formando várias gerações de cidadãos
subservientes, sem altivez, malandros, safados; é o que temos hoje em larga
escala do espectro social, a contagiar como peste partidos políticos, empresas
e demais ambientes sociais.
Este tipo de cidadão não tem fibra nem altivez
para opor-se a qualquer ditadura; subserviente, bajulador, semi-analfabeto e malandro,
não lhe afeta as humilhações pelas quais passa uma pessoa desonesta nem os
ultrajes impostos pelas autoridades em um regime que viola os DIREITOS HUMANOS;
raciocina que caso se mostre servil poderá safar-se ou até retirar algum
proveito. É a cereja do bolo do tipo de cidadão que a ditadura cultivava em seu
celeiro com cenoura e porrete.
Contudo, para desalento dos criminosos que
assaltaram o poder, seus sequazes e viúvas, ficaram exemplos de resistência tenaz incorporados ao repertório dos
movimentos sociais e políticos. Pela primeira vez na história do Brasil
uma ditadura foi enfrentada por civis que decidiram se insurgir pela luta
armada e não se deixar subjugar sem luta ou até mesmo preferir a morte a se
deixar pôr de joelhos por seus algozes.
Cidadãos como o baiano Carlos Marighella, Joaquim
Câmara Ferreira, o Toledo, Franklin Martins, Ricardo Zaratini, Cap. Carlos
Lamarca, Zequinha Barreto, João Leonardo Rocha, Carlos Eugênio da Paz, Osvaldo
Orlando da Costa, Inês Etiene Romeu, Aurora Nascimento Furtado, Eduardo Collen
Leite, o Bacuri, e tantos outros, milhares, ofereceram a mais tenaz resistência
ao terror de Estado que se abateu sobre a República.
O sangue derramado e o sacrifício destes
brasileiros não foi em vão, o exemplo de resistência ficou e contagiou. Outra
ditadura: NUNCA MAIS.
Olá Dr. BRASILEIRO,
ResponderExcluirLembremos que, foi mais porrete do que cenoura.
Você já está preparado para escrever o seu
livro SOBRE ESTE assunto em que você é PHD.
ABRAÇOS GONÇALVES