POLÍTICA E CONVERSÃO
Não é raro que em alguma discussão política fique constatado que a realidade política é opaca aos olhos de muita gente, inclusive pessoas inteligentes e educadas.
A instrução política começa ao se aceitar o que Maquiavel
disse sobre a natureza humana. O resto é saber que em política não se
quer converter nenhum ser humano em santo - este empenho é do Papa - mas alcançar objetivos factíveis. Objetivos políticos
divergentes geram a luta política pelo poder.
A natureza humana é ruim, fraca e má, dizia o gênio
florentino. Toda pessoa minimamente instruída sabe disto. Construir
instituições que brequem este lado negativo do ser humano é o desafio que tem
sido a construção do que se chama civilização.
Um exemplo do que seja a natureza humana na política é a
reação dos cidadãos sob uma ditadura, situação em que todos mostram o que são,
e os piores são os puxa-sacos pois destituídos de dignidade buscam
retirar proveito de qualquer circunstância e sem eles nenhuma ditadura se
firma, ademais, servem com prazer a quem estiver disposto a deles servir-se.
Existe um outro tipo de cidadão que não se sente nem um pouco
incomodado com uma ditadura, é como se os governantes tirânicos estivessem em
outro planeta, são os indiferentes. Muitas vezes participam e fazem
gestos inusitados mas apenas por uma fração de tempo.
Outro tipo de cidadão se sente profundamente desafiado,
chamado para a briga, ofendido, humilhado por um governo ditatorial, consideram
inaceitável serem postos de joelhos. Estes cidadãos saem para a briga, com
palavras, armas, mobilização da maioria, o que puder utilizar pois contra uma
ditadura nenhum inimigo é ilegítimo e nenhum meio é em princípio condenável.
Como derrotar uma ditadura? Até no filme O GLADIADOR se sabe
que mobilizar a maioria, a massa, a multidão, é fundamental para se detonar um
tirano.
É neste ponto que a ação individual se mostra insuficiente
embora se saiba que as minorias e o papel de alguns indivíduos são
insubstituíveis - o partido leninista é um exemplo de aplicação desta
constatação. As multidões têm feito a história contemporânea, mas não custa
lembrar que é preciso quem as ponha em movimento.
A natureza humana é ruim. Conhecê-la é fundamental para quem
faz política pois a ação política se pauta por ter objetivos factíveis, por
exemplo, impedir que um governo não se torne ditatorial, votar leis que
universalizem direitos e que serviços públicos sejam ampliados e melhorados,
algo bem distinto de querer converter bandidos em santos, redimir a natureza
humana.