domingo, 5 de outubro de 2025

                        JUSTIÇA

 




"A pior das violências é a mentira."

Em 𝗖𝗮𝗿𝘁𝗮 𝗮𝗯𝗲𝗿𝘁𝗮 𝗱𝗲 𝗔𝗱𝗼𝗹𝗳𝗼 𝗣𝗲́𝗿𝗲𝘇 𝗘𝘀𝗾𝘂𝗶𝘃𝗲𝗹 𝗮 𝗖𝗼𝗿𝗶𝗻𝗮 𝗠𝗮𝗰𝗵𝗮𝗱𝗼 publicada no Página12 | 13/10/2025 com tradução de Edward Magro

 

Fazer a justiça privada ou não? Sei que o tema é controverso e não é possível uma resposta "certa".

Mas este é um dilema que nunca temi enfrentar pois tenho como certo que é melhor alguma justiça que justiça nenhuma.

Só não vale é julgar e condenar quem tem coragem para executar a justiça privada tendo como espeque, não declarado, a covardia do julgador.

O que conheço do ser humano deu-me a certeza de que os ladrões são os mais perversos criminosos. Mas não os únicos. Entre estes criminosos, os estelionatários são os mais desalmados.

Conheci um estelionatário desde que ele tinha 15 anos de idade e percebi sua queda para o crime, o furto e o estelionato. Creio que o ladrão nasce feito, a oportunidade propicia o crime. Hoje ele ensina em uma universidade, mas continua o mesmo.

A perversidade gera lucro, quem respeita direitos alheios não subtrai um centavo de quem quer que seja. Roubar vicia e se não for perverso o sujeito não afana um centavo. O empresariado é uma fonte de conhecimento inesgotável sobre isso.

Quem quiser conhecer uma ótima análise sobre a psicologia dos ladrões leia MEMÓRIAS DO CÁRCERE, de Graciliano Ramos.

O mundo não é justo mas é preciso quando nada que se tenha a mínima honradez para se dizer de que lado se está.

 

 

segunda-feira, 30 de junho de 2025

                                  POLÍTICA E CONVERSÃO


Não é raro que em alguma discussão política fique constatado que a realidade política é opaca aos olhos de muita gente, inclusive pessoas inteligentes e educadas.

A instrução política começa ao se aceitar o que Maquiavel disse sobre a natureza humana. O resto é saber que em política não se quer converter nenhum ser humano em santo - este empenho é do Papa - mas alcançar objetivos factíveis. Objetivos políticos divergentes geram a luta política pelo poder.

A natureza humana é ruim, fraca e má, dizia o gênio florentino. Toda pessoa minimamente instruída sabe disto. Construir instituições que brequem este lado negativo do ser humano é o desafio que tem sido a construção do que se chama civilização.

Um exemplo do que seja a natureza humana na política é a reação dos cidadãos sob uma ditadura, situação em que todos mostram o que são, e os piores são os puxa-sacos pois destituídos de dignidade buscam retirar proveito de qualquer circunstância e sem eles nenhuma ditadura se firma, ademais, servem com prazer a quem estiver disposto a deles servir-se.

Existe um outro tipo de cidadão que não se sente nem um pouco incomodado com uma ditadura, é como se os governantes tirânicos estivessem em outro planeta, são os indiferentes. Muitas vezes participam e fazem gestos inusitados mas apenas por uma fração de tempo.

Outro tipo de cidadão se sente profundamente desafiado, chamado para a briga, ofendido, humilhado por um governo ditatorial, consideram inaceitável serem postos de joelhos. Estes cidadãos saem para a briga, com palavras, armas, mobilização da maioria, o que puder utilizar pois contra uma ditadura nenhum inimigo é ilegítimo e nenhum meio é em princípio condenável.

Como derrotar uma ditadura? Até no filme O GLADIADOR se sabe que mobilizar a maioria, a massa, a multidão, é fundamental para se detonar um tirano.

É neste ponto que a ação individual se mostra insuficiente embora se saiba que as minorias e o papel de alguns indivíduos são insubstituíveis - o partido leninista é um exemplo de aplicação desta constatação. As multidões têm feito a história contemporânea, mas não custa lembrar que é preciso quem as ponha em movimento.

A natureza humana é ruim. Conhecê-la é fundamental para quem faz política pois a ação política se pauta por ter objetivos factíveis, por exemplo, impedir que um governo não se torne ditatorial, votar leis que universalizem direitos e que serviços públicos sejam ampliados e melhorados, algo bem distinto de querer converter bandidos em santos, redimir a natureza humana.