QUANDO A HISTERIA DOMINA
Nenhuma pessoa estar imunizada contra a propaganda
política. Grandes intelectuais sucumbiram a ela, Martin Heidegger sucumbiu à
propaganda nazista, aqui no Brasil Manoel Bandeira, Rachel de Queiroz e Rubem
Fonseca foram cooptados para o golpe de 1964 por uma propaganda bem feita e bem
orquestrada.
O segredo da vitória de uma investida propagandística desta
natureza é atordoar a opinião pública com temas que provocam histeria
coletiva para dividi-la, causar condutas irracionais, fazer com
que as pessoas abdiquem de julgamentos com base em provas, dados estatísticos,
fatos.
Li no livro de Rene Armand Dreifuss, 1964: A CONQUISTA DO ESTADO, a urdidura de como agiram e do que se valeram os golpistas na campanha
de 1962 a 1964 para enfim colocarem os tanques nas ruas e deporem Jango.
Entre estes meios mais eficazes e insubstituíveis
em uma ação política desta natureza estava a propaganda política agressiva esgrimindo a
ideologia anticomunista e o combate à corrupção visando
desestabilizar o governo e manipular a opinião pública.
Estes dois temas explorados foram escolhidos pela
capacidade de provocar histeria, aborto é outro destes tópicos, sexualidade
alheia também provoca celeuma.
Nunca pensei que fosse presenciar o que tinha lido
em livros, um ambiente de luta política em que a propaganda seria
agressiva e a histeria coletiva suscitada com êxito: o país esta
mergulhado no "combate à corrupção" e a histeria dominando.
Este ambiente onde prevalece a irracionalidade é
onde floresce o abuso de autoridades, a violação de direitos, as instituições
são dissolvidas e os mínimos códigos de civilidade viram poeira. É por
demais perceptível que é nestes momentos que são gestadas as ditaduras.
Quando isto vai arrefecer? Não faço ideia. O que
presumo a partir dos fatos é que mais pessoas serão vitimadas pelo que foi
gestado neste momento e que passada a histeria muitos vão olhar para trás
envergonhados e vão procurar esquecer o que fizeram.