SOBRE UM "ESTRANHO SOCIOLÓGICO"
É importante sair da casca do ovo, ter contato com a população
do país real, de preferência de bairros onde a criminalidade domina. Lá onde
não existe politização, só a luta dura pela sobrevivência, onde a esperteza, a
trapaça e a lei do silêncio dominam.
Frequentei muitas vezes o bairro de Lobato em Salvador quando um
amigo tinha um comércio lá. Voto lá só com grana na frente. Salafrários e
pessoas de bem ocupam o mesmo espaço mas não se misturam.
Quem se queixa dos políticos não conhece o eleitorado. Os políticos
são extraídos da sociedade que os elegeu. Vamos ser sinceros pois não gosto de
perder tempo: o eleitorado é do mesmo esgoto que saem os políticos. Ou não?
Como dizia um entendido no assunto: por um cano de esgoto não passa uma gota de
água limpa.
A desonestidade é entranhada no tecido social brasileiro e isto
impede a defesa e aceitação de qualquer proposta política pois quanto mais
radical mais escorada em valores.
Sem chances então para quem se apóia em princípios. A população
não sabe o que é isto, desdenha, e aí só quem fatura é a direita. Uma população
moralmente degradada é a ruína para qualquer projeto revolucionário ou mesmo
reformista.
A população dos bairros periféricos das grandes cidades vive no
limite, na zona de penumbra que a separa da criminalidade mais exposta e
atrevida.
Quando comparada com o que se chama classe média quem tem olhos
para ver verá que um muro invisível, cultural, separa as duas partes, parecem
dois planetas distantes, dois mundos, é uma divisão cultural mais que material
que cria duas cidades opostas, dois países em um só apenas ocupando o mesmo
espaço e de costas para o outro.
O crime e o desrespeito por qualquer regra de civilidade dominam
nos bairros periféricos. Na aparência parece apenas uma cidade mas na verdade
são duas. Quem vive em uma não frequenta a outra pois pode ser um erro sem
volta.
Quem de classe média se arrisca em uma excursão em qualquer
bairro periférico? Favela tem regras próprias. Uma delas, qualquer uma pessoa
estranha é logo detectada e com o domínio de criminosos violentos isto pode ser
fatal.
Na verdade existem dois universos culturalmente diferentes. Os
detalhes do que seja isso dá um tratado, que vai de como se vê a honestidade, o
respeito pela vida, o respeito aos direitos humanos e aos direitos dos outros e
por aí vai.
Uma coisa é certa: são dois mundos que não se bicam. Outra
coisa, política é coisa estranha ao mundo periférico, lá não existe espaço para
a defesa de outra coisa que não seja o interesse pessoal.
A política já é uma atividade que conduz ao amoralismo, mesmo
exigindo princípios o tempo inteiro, e que piora ou se torna inviável em um
ambiente de eleitores que vivem na zona de penumbra entre o crime e a lei.
Do meu ponto de vista existe uma conexão entre as desgraças do
PSDB e a população, como se fosse o casamento entre o sujo e o encardido. Como sou sociólogo e sei que se pode construir uma pessoa pois
todo ser humana é resultado de uma montagem chamada de socialização não tenho dúvidas que a engenharia social do PSDB opera para consolidar a divisão que já existe no país.
Sei que o povo brasileiro é resultado do trabalho da classe dominante,
que o aviltou e avilta, retirando qualquer sentimento de honra, amor próprio e
compreensão dos processos sociais.
Os meios usados para isto? O analfabetismo, a intimidação, a
pobreza, a manipulação das percepções e pensamentos pelo que veicula pelos
meios de comunicação. O racismo tem sido o mais recente recurso pois ela sabe
que se dividir a população em um conflito racista ela ganha de saída o apoio da
população branca.
Não tenho dúvidas que degradar e dividir a população faz parte do processo
de dominação. O Exército incentivou o puxa-saquismo, a deduragem, a delação e a
subserviência durante toda a ditadura e sempre olhou com suspeição pessoas
altivas.
Um exemplo, prefeitos ladrões nunca foram ou irão presos nem na época da ditadura nem agora. Se o
sistema começar a prender prefeitos larápios o país explode pois o braço da
dominação política mais efetiva é operado pelos prefeitos.
Portanto, formar e incentivar
vagabundos faz parte do processo de dominação política.