O LINCHAMENTO INCENTIVADO
O linchamento de Fabiane
Maria de Jesus, 33, ocorrido no Guarujá, litoral paulista, ocorrido no último
sábado, dia 03 de maio, é chocante, brutal, cruel, principalmente por ser um
uma prova da irracionalidade incentivada e provocada.
A vítima foi objeto de
infamantes boatos em página do Facebook imputando-lhe a prática de magia negra e
de ter usado crianças raptadas em rituais. Os assassinos e o indivíduo que fazia a
página não procuraram saber a verdade,
se a ocorrência imputada era um fato
ou maledicência.
Apesar da brutalidade do
desfecho não devemos olvidar as possíveis causas deste crime. É fácil manejar
uma campanha de ódio, não é preciso dispor de uma rede de televisão ou de
rádio, basta um ou alguns hábeis na arte de intrigar soprarem no ouvido certo,
que pode ser um ou vários, que sempre deságua em atos desta natureza, agressão
ou linchamento, execução sumária.
Resta óbvio que satanizar
alguém usando uma rede de televisão no Brasil é uma barbada. Sem regulação de
qualquer espécie vicejam os programas que atentam contra os Direitos
Fundamentais do Cidadão, os chamados DIREITOS HUMANOS - não basta para gente
como Rachel Sherezade, Luis Datena e Marcelo Rezende substituir o Judiciário em
julgamento sumário, tem que haver a execração.
O ex-ministro Zé Dirceu antes de ser julgado pelo STF quase
teve sua cabeça atingida por uma bengala de mais de um quilograma de ferro manejada
por um escritor de estórias para crianças. Se a bengalada tivesse atingido o
alvo poderia tê-lo matado. Ninguém duvida que foi resultado da intoxição
emocional promovida contra si pelas grandes redes de televisão, Globo,
Bandeirantes - que sabiam o que estavam fazendo e o que poderia ocorrer.
A compreensão da
propaganda e da manipulação da opinião pública já foi estudada por dezenas de
autores. Contudo, o filme “A ONDA” demonstra com uma estória a tese de como é
possível manipular pessoas, bastando que se saiba operacionalizar técnicas que
incidam sobre a fragilidade da subjetividade dos homens.
O filme demonstra
que o lado frágil da subjetividade humana é a faceta que aflora quando o
sujeito sacrifica a capacidade de raciocinar e passa a aceitar proposições sem exigir provas ou a mínima
plausibilidade como os dogmas ou falsa informação.
Demonstra também a tese do filme que as organizações secretas místicas ou
supostamente laicas são já em si instrumentos de manipulação para a veiculação
de doutrinas autoritárias pois a natureza conspiratória obsta a análise e
facilita a fixação dos dogmas e o sacrifício da racionalidade.
Evidencia A ONDA também que os ritos e os símbolos podem ser também
instrumentos de veiculação dos dogmas autoritários verificada a facilidade com
que por estes meios eles são impostos e como facilmente por eles manipula-se
condutas e atitudes.
Patenteia a tese demonstrada no filme que
explorar com os fins de manipular as condutas os sentimentos de ódio,
de inferioridade, frustrações ou sentimentos de
suposta superioridade é fundamental para se operar na fragilidade da
subjetividade, que ocorre quando o indivíduo sacrifica a capacidade de pensar
sobre bases racionais e demonstráveis e abdica de apoiar a convicção em provas.
É por esta lacuna da subjetividade, o lado irracional, que se pode
contrabandear para a pauta de crenças e valores do indivíduo como se verdade
fosse proposições que não se amparam sequer em evidências mínimas.
Apelar para os sentimentos de
crueldade agitando preconceitos,
dogmas, explorar a ignorância e os sentimentos atávicos como o instinto de sobrevivência, o medo e o sentimento de grupo ou rebanho é uma fórmula infalível para
a manipulação da opinião pública e das multidões.
Da apelação para o sacrifício da racionalidade se valem todas as doutrinas
autoritárias, inclusive doutrinas políticas como o fascismo, ou simplesmente
místicas comerciais como a sopa de letras de Paulo Coelho ou Edir Macedo.
A manipulação da opinião
pública e a manipulação da informação
Pensar é um
trabalho pois há dispêndio de energia, mas raciocinar e não sacrificar a
racionalidade é o passo inicial para sermos livres e não manipulados.
Porque pensar é
um trabalho e cansa, milhões de pessoas são manipuladas por preguiça, por
indolência cometem "pequenas" injustiças repetindo boatos e informações
inexatas.
Desta maneira, toda ação
com fins de manipulação precisa alcançar a
desestabilização da capacidade de raciocinar em bases racionais pois só
assim o insumo da atividade pensante,
a informação, poderá ser
aceita mesmo não sendo informação mas produto estragado, engodo.
Foi nestas circunstâncias
que o linchamento de Fabiane ocorreu cometido por uma turba assassina. Contudo,
as circunstâncias foram maturadas durante largo tempo e bastou a ocasião para
acontecer – dadas as circunstâncias poderia ter ocorrido com qualquer outra
pessoa.
As circunstâncias morais e
psicológicas foram maturadas principalmente pela ação das grandes cadeias de
televisão ao veicular programas da
qualidade dos programas de Luis Datena, Marcelo Resende, incitação à violência
em “comentários’” como os de Rachel Sherezade e outros iguais existentes em
redes locais pelo Brasil afora.
Existem assuntos que excitam a opinião pública
mais que outros e conduzem-na à histeria
quando repetidos de diversas maneiras, principalmente pelos grandes grupos que
controlam os meios de comunicação, entre estes se destacam anticomunismo, corrupção,
aborto, irreligiosidade de grandes líderes, práticas religiosas
de grupos minoritários (magia negra, satanismo), sexualidade alheia.
Também o medo e a sensação
de insegurança real ou hipostasiada
de ameaça de guerra, perda do poder aquisitivo por
corrosão inflacionária do valor da moeda, a ameaça de fome ou a simples
hipótese tornada crível de vir a faltar gêneros básicos, índice crescente de crimes contra a pessoa, podem ser
explorados por propagandistas hábeis em mexer os cordéis que tocam fundo o
psiquismo coletivo.
Estes assuntos quando
escolhidos como mote para serem exagerados, repetidos de diversas maneiras e
adaptados a diversos públicos alvos provocam a excitação, impermeabilidade a
argumentos, desestabilização emocional, hiperestesia e perda do autocontrole.
Tal a desordem mental que provocam quando agitados que os cidadãos não se
entendem, defendem coisas contraditórias, impossíveis ou praticam atos ilegais
abertamente.
O remate deste tipo de manipulação
da opinião pública se dá em marchas, comícios, manifestações e aglomerações organizadas
ou espontâneas, quando as últimas barreiras refratárias à instigação são
rompidas.
Aqui no Brasil a mais
conhecida campanha de ódio e desestabilização da opinião pública movida contra
um governo constitucional ocorreu entre os anos de 1962 e 1964, quando uma
opinião pública galvanizada e histérica foi manipulada pelos golpistas.
Como nunca foi
responsabilizada por atentar contra a democracia e por ter servido aos
golpistas na instalação de uma ditadura sanguinária a mídia golpista voltou e
permaneceu no local do crime, continua tendo por objetivo o envenenamento
emocional da opinião pública, nem que seja para vender audiência e arrancar
algum dinheiro de anunciantes à custa da desgraça alheia.